Dizem que depois ou durante uma experiência traumática, as
atividades cerebrais dos humanos aumentam exponencialmente, fazendo o indivíduo atingir a mais profunda compreensão
da vida e seu sentido. Partindo deste
princípio, tentarei criar qualquer coisa agora para testar estas teorias. Não
creio que sairá grande coisa, mas não há de me custar muito tentar:
- Nunca mais dormirei: dizem que dormir é desperdício de
vida.
- Mas é só nos sonhos que posso ser quem eu sou.
- Mas vós podeis sonhar acordado! Dizia ele: o homem sem olhos.
- Nunca mais ouvirei aquela música. Sabe aquela? Aquela que
me faz lembrar...
- Mas vós podeis cantar, talvez sem perceber, não importa. Dizia ele: o
homem sem ouvidos.
- E principalmente, nunca mais direi o que devia dizer, eles não
ouvem, não compreendem o que digo.
- Maravilha! Assim, vós
podeis ouvir mais, se aprende muito ouvindo. Pensava ele: o homem sem língua,
sem pernas e braços.
- Nunca mais lembrarei, pois não preciso. Há muitas verdades no recordar e dói...
- Mas vós podeis inventar sempre, há tanto colorido no
criar. Dizia ele: o homem sem memória.
- Nunca mais perdoarei. Descobri que o perdão válido é apenas
aquele em que perdoas a ti mesmo. E quem se conhece, não encontra motivos para
si perdoar.
- Mas vós podeis amar. Não há mal nem um. Dizia ele: o homem
sem crimes.
- Não! Deveras, também nunca mais amarei.
- Isso... Não ame! Amar
é inútil. Disse ela: a pessoa que eu amei e que me amou profundamente, mas
nunca fora boa nesses negócios de amar.
- E também não mais
tentarei encontrar ninguém. Cansa sabia? E também não vou mudar. Aquelas pessoas
que me conhecem, que busquem se reinventar sempre, que busquem sempre novidades
em si próprias, para que eu não repugne ninguém com o tempo. Dizia ele: o homem
que não se conhecia.
- Bom! Pois eu amarei até o mundo acabar... Dizia o homem no
seu último dia de vida.
- Bom mesmo! Dizia um personagem insignificante ao longe: - Era
podermos vender aquilo que não temos e mais sentimos falta, pois não há nada no
mundo que temos mais compreensão do que estas coisas.
- Vendemos silêncio então? Indagava-o: o homem que falava
pelos os cotovelos.
Não! És louco? Que vendamos palavras. Dizia o homem que
pouco dizia.
- Eu não compreendo... Eu não vejo, não falo, não ouço, e principalmente
nada digo. Apenas caminho, sei para onde vou, mas não ligo. Sempre chego, no entanto,
no final, pouco noto que caminhei. Repito o mesmo caminho sempre, e todo dia é
uma nova luta. E todo dia, noto coisas diferentes. Mas sabe o que mais faço;
busco obstáculos onde não há, apenas para fazer minha caminhada sempre diferente,
porém o caminho é sempre o mesmo. E estes que tanto dizem, tanto compreendem, tanto
buscam compreender, não notam que o caminho é sempre o mesmo. Contar-lhe hei o
segredo da vida: o caminho é sempre o mesmo.
SAMUEL IVANI.