domingo, 29 de junho de 2014

Apoético


Nunca foi poesia. 
Sempre foi uma forma de dizer-te
Qualquer coisa que não és capaz de compreender,
Com gestos. 
Ou mesmo, ouvir e reagir como desejo.
Dizer, eu digo o tempo inteiro,
Afinal, nunca fui de esconder.
Tu que não me ouves,
Tu que me ouves e chora
Depois que, sinceramente, me deixa perceber
Que não se importou.   
Afinal, nunca gostei daqueles poemas.
Palavras. Nada além de palavras,
 Sonoramente bem perfiladas, mas que pouco dizem.
Poesia pra quê? Se tudo que eu queria dizer cabe
No silêncio de um olhar.
Se tu fosses meiga como nas fotografias.
Se tu fosse ao meu lado
Quem é de verdade sozinha.
Se teus gestos refletissem a meiguice dos teus olhos
Eu não necessitaria dessa tão inútil poesia.
Eu não necessitaria de palavras,
Pois meus gestos já seriam o suficiente.
Carregas consigo a culpa de minha poesia
Carregas consigo as razões delas não serem belas
Afinal, se eu não tivesse que dizer-te
Qualquer coisa sempre, poderia melhor escolher as palavras.
Poderia dizer eu te amo em todas elas,
Não teria receio, pois não amando,
Diria o tempo inteiro, sem remorsos.
Ainda carrega consigo a culpa por minha descrença no amor,
Ao menos aqueles vividos.
Na verdade todo tipo de amor.
Disse-me que não precisamos amar pra ser feliz
E como aprendemos a gostar de tudo que diz,
Que faz e, ironicamente, tudo que gosta as pessoas que amamos
Tive que crer em tudo isso.
Agora, sem muitas razões,
Nem dizer-te algo,  desejo tanto.
Talvez, um dia, justamente, 
quando me encontrares escrevendo para outra pessoa
Tu sintas a culpa por não ter sentido as minhas palavras
E correspondido com gestos, meus gritos. 

Samuel Ivani