quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cânticos



Uma noite qualquer, eu cantei para uma estrela.
Ela, eu não sei por que, demonstrou indiferença,
Não intensificou seu brilho, assim como eu havia pensado.
Então cantei pra uma cigarra.
Esta, por sua vez, endiabrou-se, e cantou com tanta força
que ofuscou meu canto, cantando sempre mais alto...
Resolvi cantar para uma formiga,
Mas ela sempre ocupada, sempre sem tempo,
Não parou pra mim ouvir...
Então, cantei para um pássaro poeta
Este se inspirou nas primeiras notas de minha música,
E deixou-se levar por uma nova composição
e foi compôr sua própria poesia.
Então, resolvi cantar para um pássaro canoro
Ele, em sua humildade, decidiu me acompanhar na melodia
E cantou tão belo, tão magnífico,
Que me emocionei e resolvi apenas ouvi-lo.
Então, resolvi cantar pra uma joaninha apaixonada.
Esta, nas primeiras notas, caiu em um profundo pranto.
Eu, em minha sensibilidade, resolvi não causar mais tanta dor
E parei de cantar...

Depois de tanto me frustrar
E não encontrar alguém para ouvir meu canto,
Irritado com a vida, resolvi cantar para uma serpente.
Ela, lindamente, deixou-se levar pela música,
Mesmo contra todas as expectativas
E até dançou enquanto eu cantava.
Depois de um tempo,
Descobri que serpentes são surdas.
Então resolvi cantar pra mim mesmo
E esperar alguém que buscasse me ouvir;
Alguém que se encontrasse
necessitado de música.
Então cantei, cantei, demasiadamente,
Até não conseguir mais...
Depois que não pude mais cantar
Todos buscaram me ouvir,
Mas eu já não tinha cordas vocais.


Samuel Ivani