terça-feira, 8 de julho de 2014

As pessoas são flores de beleza perceptível apenas na ausência

   
A vida é um pequeno pomar em que tu cultivas as amizades, os amores, e o inverso disso também, sempre regados a emoções dos risos, que custam pouco ou quase nada. E há sempre nesse pomar da vida, algumas pequenas plantas raras que apenas  florescem uma vez por ano,  e outras, razoavelmente grandes que, no entanto, tu julgas comum, por serem simples, rústicas, e por não requerem tantos cuidados. Porém,  são estas, que sempre te proporciona frutos, alento e sombra quando tu necessitas, e principalmente, quando não necessita também. Mas em tua inocência,  tu investes todas as tuas energias e tempo nas poucas plantas raras, às vezes única, que te proporciona uma noite de vislumbre, isso, depois de muito trabalho e ter gasto, desproporcionalmente, um tempo muito maior do que os momentos que tu passas observando aquela flor que tu julgas bela por ser rara. Enquanto aquelas que são rústicas, que quase sempre dão frutos, que quase sempre estão verdes (mas não belas, pois verde é a sua condição natural), tu esqueces. Afinal, estão elas sempre prontas as tuas necessidades imediatas,   teus anseios, que tu se esquece de  podá-las, de regá-las... No entanto,  mesmo quando visivelmente não há necessidade, elas sempre precisam de um pouco de cuidado, para que não definhem com a falta de retribuição por as inúmeras vantagens que estas, que julgamos insensíveis, nos proporcionam.   

E inevitavelmente, estas plantas aos poucos vão diminuindo sua carga de flores e frutos e começam a perder seu verde costumeiro, e morrem. No entanto, este é um processo lento, afinal, são rústicas, aguentam tempo demais, porém, não percebemos este fato porque achamos que elas sempre estarão a nossa disposição, quando assim, julgarmos necessário. Até que um dia, na falta das plantas ditas comuns, notamos que uma noite de vislumbre frente a uma flor rara, não nos proporciona aquilo que deveras é essencial, como o alento de uma sombra, alimento e a beleza do simples.  

Aí, notamos a importância da eterna presença em nossas vidas, daquelas pessoas que nos fazem bem, que estão sempre dispostas a tudo quando precisamos, e o mais importante, quando não precisamos também. O legal de ser humano, é que sendo móveis e com livre arbítrio, sempre podemos mudar e embelezar os pomares daquelas pessoas que nos acham belos da maneira que somos; que nos valorizam por nossa simplicidade e por aqueles risos sinceros que proporcionamos de vez e quase sempre.  “Valorizamos e buscamos aquilo que não podemos ter,  e não percebemos que o que já temos,  é o que deveras nos é essencial.”  

 SAMUEL IVANI