quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Tudo é tão previsível nesses negócios de ser gente grande


De uns tempos pra cá sinto-me como se tivesse apeado das costas da imaginação em um lugar estranho e caminhado em círculos desde então. E nessa caminhada, cada passo que dou cansa-me um ano, cada decisão que tomo me distancia daquilo que penso não querer... É tudo tão óbvio, tão previsível.... 

São tantas obrigações, todas elas racionalmente corretas, que fico sem opções de fugir, de deixar pra lá e continuar de outro ponto. Ah, essa sensatez comum a todos me mordeu, contaminou-me, deixou-me assim, estranhamente normal e totalmente sem graça. 
E nesse novo mundo, há no máximo uma opção de escolha positiva e dezenas de escolhas que levam-me ao fracasso, que é sempre o mais óbvio. É, nesse mundo de gente grande, os dragões te derrubam, te devoram e são mais reais que a sorte, e os moinhos de vento, são só moinhos. Tudo é tão complicado. 

Já não esqueço mais aquelas pequenas iras como antigamente, tudo vai se acumulando como em uma bola de neve, e fico esperando uma avalanche a qualquer momento, e esta, com grandes chances de esmagar pessoas que não merecem.

Nessa agora, de ser estranhamente normal afasto-me sem perceber de pessoas importantes, pois tenho outros objetivos criados a partir da obrigação de "ser" que todos, inevitavelmente, carregam. Mas novas pessoas surgem desavisados que eu, coitado, não sou ninguém, e as chances que tinha de ser, ficaram na imaginação daquelas asas.  

Quem dera nessa terra da sensatez eu pudesse voar sem ser tarjado de louco, mas são tantas regras que supostamente garantem meu "bom viver" que depois que eu cai nessa estrada conhecida, qualquer gesto que já não fora reproduzido por outros ao longo da história, excluí-me do meio. Fato que é insuportável, segundo as regras. 

Nesse novo caminho já caminhado por tantos, uso e abuso da monotonia, e parece que ela é um produto não-perecível e viciante, que depois que nos acostumamos, tudo que é diferente dá trabalho, gasta energia, e o novo torna-se um sonho distante, daqueles pra um futuro que nunca chega, então paramos naquele vazio do tempo sempre igual. Mas não desejo voltar no tempo, não é sensato. Desejo viver como imaginei enquanto ainda voava, pois tudo que vivi, é diferente do que sonhava.
É, eu cheguei a essa consciência, e todos dirão: já não era sem tempo. Tudo é tão previsível... Samuel Ivani
O óbvio é a monotonia disfarçada