sábado, 18 de outubro de 2014

Acredite



Não é bom que nos encontremos 

Há tempos que não faço a barba, me encontro magricela; assemelho-me a imagem de um Deus louco, cheio de espírito e destituído de vida real. Não te agradarás ao  ver-me depois de tanto tempo. Tornei-me rabugento, como um soberbo que acredita que consigo carrega  a mente de Dostoiévski, Tomás de Aquino, de Nietzsche e não passa de um Zé ninguém.   
Não sou mais aquele jovem engraçado. Há tempos que me desprendi do mundo, da vida, e me enclausurei em meu universo particular, só com meus livros, minha mente auto-suficiente. Deixei de ser quem tu, um dia, aprendeste a amar. 

- Não creio em tal devaneio! Quem aprendi a amar deve então estar guardado no mais íntimo de teu ser. Meu amor não pode ser desvirtuado de tal maneira infame, isso seria um abuso.

Acredite. Até mesmo eu, profundo conhecedor de mim, sinto-me como se tivesse mudado da água pro vinho, como se o tempo, os desamores tivessem me tornado assim, um ser sem graça. Sinto saudade de mim! Sinto saudade dos amores que me construíam, agora sou vazio. Não amo mais, logo, não vivo... É triste e real.

Mas eu não quero voltar a ser o que era. Ninguém me levava a sério; era como um ébrio, como um bobo da corte que todos se divertiam e nada além.
Gosto de mim assim. Sinto que me encontrei, e compreendo que ao passar por qualquer processo de mudança, necessariamente,  precisamos amargar algumas perdas, é natural. Eu perdi algumas pessoas com essa mudança. Sinto uma falta profunda, mas sei que é um processo necessário.  Ninguém pode ser eternamente um adolescente, inconsequente, vivendo como se a vida fosse um baile eterno em que a dança e o vinho e o fogo fátuo de amor imaturo, fossem pra sempre as razões de uma vida. Há tanto mais sob céu.  


Eu mudei. É provável que ainda retorne uma vez ou outra aquele meio Eu antigo, mas sou o que sou. Perdi parte de mim, pois considero cada pessoa que amo,  como uma peça do pequeno mosaico que sou, cada uma pequena parte da personalidade que vou construindo com o tempo. Era tu, boa parte das minhas razões, mas há sempre vantagem em tudo: a parte boa de me encontrar vazio é que sobra espaço para novas experiências, novas pessoas.