terça-feira, 11 de novembro de 2014

É só mais um conto que eu conto




O grande general 


Mal se entendeu por gente, e movido por aventuras contadas, ouvidas nas ruas, já descobriu o que queria ser da vida. Aquele menino sortudo, não passou por crises existenciais, tão pouco por momentos vazios em que a maioria fica tentando descobrir que carreira deve seguir, ou que rumo deve tomar na vida para encontrar a felicidade. Não! Aquele menino tinha convicção do que queria; queria ser general da mais alta patente.  Também pudera, nascera ele em tempos de guerras.  O que não lhe faltaria eram oportunidades.

Era aquele menino filho de um oficial do exército, pelo que, não havia assunto em sua casa que não fosse  à peleja diária das nações na conquista de territórios. Desde muito jovem, depois dessas convicções, passou a interessar-se por tudo relacionado a guerras e batalhas. Passou a Juntar todos os folhetos que via nas ruas a fim de estar sempre por dentro dos últimos acontecimentos. Colecionava matérias de jornais. Ficava atento a todos os assuntos dos adultos. Ouvia com atenção as notícias de batalhas, de territórios conquistados, de perdas amargadas pelo o império, de estratégias tomadas pelo os generais para avançar no território inimigo.
Ele ficava emocionado quando um ou outro narrava às estratégias brilhantes de generais que terminavam em vitórias  esmagadoras sobre os inimigos, quase sem baixas para o império. Quando alguém narrava os discursos brilhantes dos generais, quando estes,  iam repassar as ultimas notícias ao imperador, seus olhinhos brilhavam de tanto sonhar. 

Tanto ficou ele empolgado com a ideia, que ao longo de poucos anos, já tinha escrito discursos, desenvolvido estratégias de como usar a geografia do terreno, as árvores, os rios, as pontes, como uma vantagem para os batalhões que comandaria. Tinha pensando o quanto seria duro com os cabos, para que não fosse instalada a indisciplina sobre seu comando. Tinha  escrito discursos motivadores, de modo que todo o soldado em sua tutela morresse e matasse em nome do seu imperador com honra. Pensou em diversas conversas impressionantes que teria com o imperador.  O menino, ao passo que ia crescendo, tanto tornou esse objetivo sua vida, que desenvolveu sua oratória ao máximo, seu patriotismo, seu amor ao império e o imperador. Fez  da sua vida, aquele objetivo de torna-se o maior general que seu país já havia visto em toda a história.   

Já muito antes de torna-se saldado, já tinha o menino, ares de general. Irritava-se ele, quando via soldados difamando a pátria enquanto se empanturravam de Vodka. Queria discipliná-los os ordenando juntar dejetos de cavalos nos estábulos para  que adquirissem respeito à terra que os alimentava.   Sempre que alguém relatava derrotas do império durante uma conversa, embora não emitisse sua opinião, ele desenvolvia estratégias  de si para consigo, que, ao certo, acarretaria na vitória eminente, isso, com ele no comando das tropas.

Para aquele menino, a maioria dos generais eram todos idiotas e sempre tomavam decisões erradas. Principalmente aqueles que ele  conhecia pessoalmente. Pensava ele que não se fazia mais generais como antigamente. Porém, com ele, tudo seria diferente. Ele sendo general, levaria o exército de sua nação a conquistar territórios jamais pensando pelo os mais otimistas do império. O garoto de tanto sonhar, também não descartava a possibilidade de se tornar,  em pouco tempo, imperador, pois talento para tanto, ele tinha convicção que possuía.        

Quando atingiu a maioridade, o jovem ciente do que queria se alistou no exército.  Pensava ele que com o conhecimento que tinha de guerras, ele teria vantagens imensas em relação aos demais jovem soldados.  Mal iniciou os treinamentos e mais uma guerra estourou em seu país,  e o império se viu obrigado a recrutar o maior número de soldados possíveis para a linha de frente para defender as fronteiras de seu território que estava sendo atacado por uma nação inimiga.

O jovem soldado inexperiente, pensou consigo mesmo, que aquela era a sua oportunidade de demonstrar ao mundo e ao seu batalhão o  talento que tinha para general. Dirigiu-se sob o comando de um general qualquer que, segundo ele,  mal conhecia de guerras, em direção ao campo de batalha.
No campo, já bem próximos dos inimigos, os soldados inexperientes foram instruídos a ficaram entre os flancos da esquerda e da direita, para que ficassem protegidos, pois ainda não tinham treinamento para que se dispusessem na linha de frente, tão pouco nos flancos, pois era sempre por onde os inimigos iniciavam o ataque. O jovem, crente que a estratégia do seu general estava completamente errada, e ciente que suas instruções seriam de grande valia, decidiu que ia ter com o general para lhe passar seus valiosos conselhos.

Mal a batalha iniciou-se, entre os assovios das balas dos inimigos, ele deixou seu posto, e abrindo caminho por entres seus companheiros, rapidamente, ele  chegou à linha de frente; desprotegido e entre as balas que tilintavam nas árvores, ele se dirigiu ao general com toda a sua velocidade. No entanto, antes que pudesse proferir palavra que fosse uma bala atingiu-lhe o peito em cheio, fazendo  com que caísse desfalecido naquela terra que tanto o alimentou. 
Deitado ali, a  vida passou diante dos seus olhos; todos os seus planos, todos aqueles discursos, aquelas medalhas em que ele sonhara. Pensou naquelas vitórias honrosas que ele teria se tivesse tido a chance de ser general. Viu todos os elogios que ele havia pensando que lhe eram certo no futuro, pois ele tinha talento para a guerra, logo, o povo de seu país iria, com certeza, ovacioná-lo.   Tudo que ele havia pautado toda uma vida havia lhe sido tirado injustamente em poucos segundos. 

Pensou ele: “como podia aquilo estar acontecendo?  Tanto que ele havia estudado, tanto que ele conhecia de todas as guerras da história, e naquele momento, tudo se desvanecia nos milésimos de segundos que uma bala leva para atingir o peito de um homem. Concluiu ele que a vida era de fato injusta.”  

Eis que, seu mundo escureceu, passou a não mais ouvir o barulho das baionetas que seguiam úteis naquela guerra; elas, embora sem vida, eram úteis, enquanto ele, coitado, era inútil e morria, não servia mais para nada. Seu sonho de se tornar um grande general se acabara ali. Sentiu o jovem sonhador a bota do soldado último que o pisou, enquanto avançava sobre o seu saudoso exército rumo a qualquer fim que para ele pouco importava. E fora essa, a última sensação que o grande general futuro sentiu.

Aquele jovem,  de fato tinha grandes chances de se tornar um grande general, talvez até imperador, porém, esqueceu ele, que para que viesse ser um grande general ele tinha que,  primeiro, ser um pequeno e cauteloso soldado.   


Ás vezes, sonhos demasiadamente altos podem levá-lo a constantes frustrações, senão acompanhados de sabedoria e paciência para enfrentar os primeiros degraus ainda em terra firme. 

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