sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Os crimes que inventei


Os crimes que inventei  


Eu já matei. Não uma, não duas, mas diversas vezes. E também cometi diversos outros crimes, mas apesar de tanto, ainda sou um homem bom.

Eu matei aquele menino que não me emprestou o brinquedo quando eu pedi. E não só ele, também matei boa parte de sua família de forma cruel e rápida, além claro, de ter queimado todos os seus melhores brinquedos. Matei também inúmeras senhoras que me apertaram as bochechas, só por pirraça;  as assassinei das mais diversas formas, sendo que a maioria eu apenas explodi suas cabeças com a força do pensamento, isso, ainda enquanto apertavam minhas bochechas que nem eram tão fofinhas assim. Matei aquele cara grande e forte que me empurrava na fila da merenda. Esse eu matei com gosto afogado na sopa quente, enquanto eu dizia: “vai me empurrar de novo desgraçado, vai? Empurra agora!”.   

Matei também o cara engraçado e de topete do Elvis, que  sempre ficava  com as meninas mais graciosas da sala de aula. Além claro, de tê-lo humilhado na frente de todos, da mesma forma que ele me humilhava  caçoando do meu cabelo cortado modelo surfista ridículo.  Também tirei a vida de diversos motoristas que não me deram carona enquanto eu caminhava sob o sol flamejante, explodindo seus carros com uma bazuca. Já enchi de beliscões até arrancar os couros de um menino gordo e comilão que encontrei sozinho e indefeso na estrada, apenas porque pensei que isso me faria bem. Já desejei aquela menina, que apesar de ainda muito jovem, já tinha graciosidade de uma moça linda.  E mesmo assim, ainda sou alguém do bem.     

Matei aquele cara que tirou uma nota mais alta na prova para um cargo público, só pra ficar com a vaga.  Matei também, por inúmeras vezes, aqueles patrões que me despediram por eu não ser do perfil da empresa. E  aqueles que sequer me deram a chance de demonstrar os meus talentos então!  Esses eu os queimei  em fogueiras de óleo, para que sofressem eternamente, além claro, da clássica explosão da cabeça por telepatia.  Mesmo assim, ainda sou considerado um homem bom.

Já matei, também, inúmeros maridos que não mereciam, segundo meu julgamento, as esposas que tinham, só para ficar com elas.  Mas claro, sempre fingindo ser amável e solidário quando melhor me aprouvesse. Mesmo assim, sou um homem bom.

Além de matar, também sou preconceituoso, pois já tive receio de pessoas maltrapilhas  e com ares de viciados que encontrei nas ruas. Cheguei ao ponto de pensar, por inúmeras vezes, que seria, com certeza, morto por um deles. Mas sempre me contive, disfarçando a duras penas os tremeliques. Se bem que, logo que sentia o perigo passado, pensava que se caso eles tentassem alguma coisa, certo que eu o teria dado uma voadora típica do Van Damme e os teria matado também.


Sou um criminoso, um pervertido, um preconceituoso..., e todos outros adjetivos contrários ao ideal do que é ser do bem, mas como sempre escondi e contive os meus crimes apenas em meus pensamentos mais vis, sou um homem bom não diferente de nenhum outro humano comum.   Não diferente de ti leitor. Não negue, pois negar só fará com que eu tente explodir tua cabeça por telepatia.  

Às vezes me pergunto se somos, de fato,  o que negamos, pois é a regra, ou se somos aquele que se encontra no universo selvagem e particular de nossas mentes. 

Samuel Ivani 

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