sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Uma última carta ao amor




Uma última Carta ao amor 

Sentou-se ele sobre um tronco qualquer, em um lugar qualquer de cores simples. Era ali, o perfeito cenário de um quadro mixuruca, daqueles que se ver pendurado por um prego numa parede suja de uma casa de quatro cômodos. Um quadro sem aquelas misturas de cores, sem aquele requinte necessário a uma obra de arte. Afinal, sua vida era mesquinha e de arte tinha pouco ou quase nada. 
Aquelas cores simples, lhe seriam o cenário em que ele escreveria sua carta de amor. 
Aquela carta, não seria destinada alguém que ele ama, também não a um amor do passado, tampouco, a alguém que por ventura tenha o amado. Não. Esta carta seria destinada ao sentimento amor, que por alguma razão, depois de um tempo, resolveu partir. 
Afinal, o amor é como um sopro, que depois de proferido, senão mantido a plenos pulmões, deixa de acalentar qualquer coração que ama e, são poucos aqueles com fôlego para mantê-lo na mesma intensidade um longo período de tempo. Porém, há grandes chances que aquele que o recebe  adormeça, e a partir daí, nada mais importa, pois em um mundo de sonhos, qualquer coisa lhe parece amor.
 Iniciou ele a sua última carta ao amor: 

Olá!

Espero que esteja bem! 
Não entendo porque se foi... 

Ah amor! Julgava-me, sem sombra de dúvidas, a pessoa da qual mantinha uma relação intensa contigo e, tinha como certo, que jamais nos afastaríamos a tal ponto que desvencilhasse de mim todo e qualquer sentimento. Mas sinto-me vazio. Enganei-me contigo. Tanto que te ovacionei, tanto que fiz de ti todas as razões que achava que tinha. 

E veja, olhe bem, não carrego mais aquele brilho nos olhos. Não torno mais qualquer música trilha sonora de uma vida a dois. Sinto-me só. Bem. Sozinho eu sempre estive, porém agora, sinto-me solitário. Tu se foste, talvez como uma forma de me castigar pelo o fato de nunca ter aprendido a viver os amores que senti. 

Não! Não venha culpar-me por algo que foste tu o responsável. Quem mandou manter uma relação tão intensa comigo que fazia de qualquer fagulha de sentimento um amor típico dos romances utópicos da idade média. Bem devias saber tu, que nesta época que vivo, não há mais cervos para que eu saia numa caçada heroica, tampouco, leões, que possam atacar os cervos. Muito menos, se encontra em qualquer esquina princesas indefesas, para que eu pudesse salvá-las dos cervos e dos leões e me tornasse para sempre a razão de suas vidas. O mundo real é bem mais simples, embora seja também mais sem graça. 
Tu falhaste comigo. Deveria ter se mantido a uma distância razoável de modo que não impedisse a razão de dar palpites nos meus sentimentos de vez e quase sempre. Vejo-te como um egoísta. Que custava deixar a razão no controle e tu surgisse apenas em momentos estratégicos, assim como acontece com a maioria das pessoas? Não, tu tinhas que me tornar um sonhador, um Don Juan de Araque, que via em todo sentimentozinho mesquinho à chance de viver um amor de cinema. Amores de cinema não existem! O amor real e possível de ser vivido é muito simples e tu bem sabias disso. 

O amor real é assim: duas pessoas se conhecem, aprendem a se gostar ao ponto de julgar que a companhia um do outro seja indispensável, então resolvem tornar isso realidade e juntam as escovas. Tudo isso impulsionado por tuas flechadas. Passam a viver juntos, e com o passar do tempo, se acostumam, então, tu amor, vais embora sorrateiramente. Porém, muitos acostumados com a rotina, nem percebem que tu se foste. Mas bem sei que tu sempre vais embora mais cedo ou mais tarde, embora retorne uma vez ou outra, mas eu bem sei que tu não ficas eternamente. Só fica no início, depois que fisga os tolos de vez, se vai. Tu és um maldito cúpido traiçoeiro. 

Agora eu espero sinceramente que depois de tamanhos disparates que cometeste durante a nossa relação, tu não me apareça disfarçado de um sorriso qualquer, ou na forma de uns cabelos longos deslizando sobre uns ombros sem graça, ou camuflado de um olhar de carência, desejando ficar. Não, comigo não. Eu cansei desse amor que em mim viveu todo esse tempo. Ora, de nada me serviu. Que fiques bem distante, e não retorne disfarçado noutro amor mesquinho, pois julguei que embora sinta falta, às vezes, vivo melhor sem ti. 

Espera! 

Embora me pareça que essa carta seja, na verdade, um pedido desesperado para que retorne. Ou pior, tu que nunca se foi, me impulsiona a escrevê-la.

Desgraçado! Quão sorrateiro és! Mas não me renderei. Fique bem longe, ai mesmo, para onde eu penso que fugiu. 

Passar bem! 










Samuel Ivani

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