Nem sempre são flores
Eu, por infortúnio de um dia, caminhando,
exaustivamente, repetindo o mesmo caminho que sempre faço, avistei uma flor. Era
uma flor tão comum, tão singela, tão igual aquelas que eu avistei nos demais
dias que por ali passei de propósito só pra vê-las. Ela tinha belas cores,
parecia exalar um perfume tão suave quanto. E eu, inocentemente, coitado, pensei
que aquela flor, linda, (ao menos assim, a primeira vista) que apreciá-la, me
seria sempre agradável. Ora, pensei que as flores, por serem flores, sempre seriam
belas, que teriam pra sempre as mesmas cores, as mesmas pétalas vivas, o mesmo
cheiro agradável, porém me enganei completamente. Aquela flor escondia uma
vespa em meio as suas pétalas, que disfarçada, escondia seu verdadeiro veneno. Eu
que, de bobo, quis sentir o seu perfume, e descobri o amargo doce do seu Eu
selvagem. Se as flores não demonstram
abertamente seus espinhos, elas sempre escondem algum veneno, é natural. Um momento
ou outro, as flores murcham, ou machucam, da forma mais bruta que nunca se
poderia imaginar de uma flor.
Não há quem seja pra sempre meigo,
pra sempre suave, calmo..., pois todos nós resguardamos dentro de nós o selvagem
da nossa natureza. Se esta “humanidade” não se manifesta em palavras, em
rebeldia ao sistema, aos santos, aos deuses, que seja; ela se revela em
violência física. Não me
engano com pessoas de sorrisos constantes, com aquela passividade sem razões,
com a falta de inteligência para se rebelar com qualquer coisa, ou mesmo de
emitir opinião sobre as mazelas do mundo, a fim de desaguar o ódio que carrega
na mesma proporção que o amor no seu intimo. Os ignorantes, aqueles que são sempre
apáticos em relação ao mundo a sua volta, rebelam-se, no deslizar das gotas que
jamais encheriam um oceano, contra qualquer coisa, porque não possuem inteligência
suficiente para escolher onde desaguar a selvageria humana que carrega consigo.
O problema é que essas pessoas normalmente levam anos para se mostrarem..., mas
elas sempre murcham cedo ou tarde, e os frutos que surgem dessas flores, sempre
são amargos e intragáveis. O bom que
com o devido tempo a gente conhece as pessoas. Elas sempre se revelam, uma hora
ou outra.
Samuel Ivani