quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Puta que pariu, a gente envelhece



Meu Deus, a gente cresce! E pior ainda, a gente envelhece; fica rabugento, insuportável, perde a graça, cansa fácil de ser a gente e, pior, cansa fácil de ter que agradar os outros, de ser obrigado a ser hipócrita na maioria do tempo. Tudo cansa.
Puta que pariu, a gente envelhece e, amadurece, só que nem sempre. Não devia.
Ora, Peter Pan tinha razão, eu era feliz enquanto criança, não tenho dúvida; era feliz quando os meus maiores medos eram de carro preto e de Chupa cabra. Agora, tenho uns medos tão toscos e sem graça. Pois vejam: tenho medo da realidade,  medo do tempo que passa sem volta. Enquanto criança eu sequer via o tempo passar, hoje tenho medo da morte, que me é tão certa quanto o amanhã, embora a morte possa me tirar o amanhã.
E são medos chatos, pois é duro superá-los sem tempo.  Antes eu tinha medo da escuridão e passava quando cobria o último dedo do pé com o lençol.
 Que saudade do tempo que meu maior medo era ficar de vovó nas brincadeiras de roda. Hoje tenho medo da solidão, de ficar só, afinal, manter as pessoas próximas requer um gasto de energia excessivo.  Sem contar que tem algumas pessoas que dá vontade da gente simplesmente cortar relações mesmo, de mandar pra ponte que partiu sem pensar. Mas hoje não posso mais me utilizar de  um gesto infantil  tão útil que era de separar os dedos do outro com a mão com a promessa de que nunca mais  nos falaríamos.  Embora no dia seguinte, sem mágoa, voltássemos com a mesma amizade, como se nada tivesse acontecido, porque enquanto criança a gente não acumula nada, nem mesmo mágoas.  É aquele "viver" o presente sem grandes preocupações. Quando nos tornamos adultos, uma bola de neve vai se formando e é inevitável que ela machuque alguém e é sempre quem não merece. 

Mas o tempo passa e aquela frase "pra sempre" começa a ser realidade e dói. Enquanto criança "pra sempre" era só a felicidade dos mocinhos no final dos contos de fadas, e mesmo,  essa parte  não nos interessava.  Que saudade que eu tenho do tempo que eu não tinha medo de perder as pessoas para todo o sempre.  
Saudade do tempo que a maior prova de amor era guardar o lugar do outro com a mochila pra garantir que sentaríamos juntos na escola. Saudade do tempo que o melhor presente era um pirulito Pop, cujo lhe rendia um sorriso que o elevava ao paraíso. Era tudo tão simples, tão cheio de cor. Hoje, a maioria das pessoas custam-lhe tempo e suor e, ainda tem a possibilidade das decepções. A felicidade devia custar somente o preço de um sorriso, assim como na infância. Hoje, a maioria dos sorrisos custam a hipocrisia de ambas as partes; um  por fingir que acreditou que são sinceros e a outro pelo esforço de proferi-los sem vontade. 
Saudade do tempo que a mentira que ouvia era que tínhamos vindo no bico da cegonha, ou que o coelhinho da páscoa colocava ovos de chocolate. O tempo passa e as mentiras tornam-se sérias demais e sempre trazem consequências drásticas.  A gente envelhece, mas não devia. 

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