sábado, 2 de abril de 2016

Eu e o sonho de ir ao Programa do Jô...




Há tempos que esse texto estava guardado em mim e os últimos dias lhe deram sua carta de alforria. 

Ao ver a chamada da última temporada do programa do Jô na rede Globo, fiquei profundamente triste e explico as razões que não são poucas

Há quase quinze anos eu  acompanhava diariamente as entrevistas do Programa do Jô. Vi e revi no Youtube todas as entrevistas com escritores e outras personalidades que julguei que acrescentariam algo na minha vida, tais como Raul Seixas, Renato Russo e tantos outros, desde a época do SBT com o programa Onze e meia. Penso conhecer todas as estratégias do apresentador; os cacoetes, as artimanhas, gestos, sincronia com a equipe dos bastidores, todos os bordões, conheço a biografia, a maioria dos trabalhos, suas histórias engraçadas. Eu aprendi inglês sozinho, incentivado pelo apresentador. Jô vai deixar uma lacuna impossível de ser preenchida na televisão brasileira.  

Desde muito jovem eu tinha aquela sensação que havia nascido pra algo grande, eu não sabia o que era; um grande Czar, um imperador, um lobo soprador de casebres, não sei, só tinha aquela certeza oriunda sabe Deus de onde que eu seria grande. Desta feita, a partir dos meus 13 anos, quando assisti pela primeira vez o programa do Jô, eu fiquei encantado, pois ali vi uma grande oportunidade de aprender muito sobre as pessoas, enfim, sobre tudo. Até que depois de assistir tantas entrevistas do programa eu passei a sonhar em um dia ser entrevistado pelo Jô Soares, pois me achava bem interessante e tinha certeza, em minha arrogância costumeira, que renderia um ótima conversa, já que me achava um gênio. Desde então, todos os meus atos, tudo que fazia, tal qual um jovem apaixonado que tudo que faz imagina como se a pessoa amada tivesse do lado, eu sempre que vivia algo, me imaginava contando o fato no programa, fazendo o apresentador rir e a platéia. Eu então fui imaginando como agir na entrevista. Eu sonhava, por exemplo, que eu não poderia ser aquele entrevistado eufórico que ficava extasiado por estar ali e não deixava a entrevista desenrolar, como muitos que me envergonharam enquanto eu assistia. Conheço todos os tipos de entrevistados do programa; aquele tipo que quando levado a contar uma relato da sua vida, começa a rir exageradamente antes de contar o fato, de modo que todos ficam feitos bobos, pois não podem rir junto, já que a pessoa não compartilhou o motivo daquele risos e tantos outros... 

Assim sendo, eu dizia para todos que conhecia que ainda seria alguém, quem quer que seja, e seria convidado para uma entrevista no melhor programa de entrevista de todos. Obviamente todos riam de mim; "um pobre coitado morando no fim do mundo, jamais seria alguém, não ao ponto de ser entrevistado pelo Jô". Bem, minha presunção e soberba, nunca permitiram que deixasse de acreditar. Eu tinha minhas convicções, baseadas sabe Deus em quê e elas eram inabaláveis. Coisas de adolescente... 

Até que, depois de um bom tempo, me descobri um amante da literatura e em minha arrogância costumeira, me veio a certeza que eu seria o maior escritor desse país, (aquela síndrome de todo aspirante a escritor, que eu chamo de síndrome de Raskolnikov) foi ai então que eu passei a acreditar mais ainda que realizaria o meu sonho de conhecer Jô Soares, pois tinha o meio, já que ele também era um amante da literatura, embora gostasse mais de romance Policial. A partir de 2013, mais de dez anos depois do meu primeiro contato com o programa, eu tinha certeza mais do que nunca que os meus livros geniais seriam a ponte para ir ao Talk show. Óbvio que não eram, meus primeiros livros, quando os releio hoje, constato que não passam de esterco, mas acreditar me fez querer me aperfeiçoar mais e mais.  

Até que, em 2014, Jô Soares contraiu uma moléstia e saiu do ar. Na internet eu não encontrava quase nada sobre seu estado de saúde, então, em minha arrogância costumeira, eu pensei: ele não podia parar agora, ainda tinha um grande escritor pra ser entrevistado que seria eu. Até que saíram muitas notícias que ele tinha morrido, foi então que meu mundo desabou, tantos anos pautados em um sonho e estava tudo acabado. Até parece egoísmo da minha parte, eu sei, mas não é. Eu não sou fã de cantores, de jogadores, sou fã de jornalistas, apresentadores inteligentes e quando recebo a notícia do falecimento de alguém que gosto eu lamento muito, foi assim com João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Ariano Suassuna, eu queria muito ter tido a oportunidade de trocar uns dedos de prosa com meus ídolos, mas todos já estão bem velhos e estão indo, pelo menos deixam os livros.     

Mas Jô se recuperou e voltou melhor do que nunca, o que me encheu de esperanças; com 76 anos, ele ainda teria muito tempo para levar o programa. Aí me veio a notícia que ele iria parar em 2016, acho justo, ele já deve está cansado, o problema é que eu não sou alguém ainda, embora tenha publicado um livro que ninguém conhece. E tudo que eu planejei, todas as falas que imaginei que surtiria um efeito satisfatório nele?
Porém a vida é injusta; e eu também não sou nem mesmo o carregador das flechas de um grande arqueiro.
"Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada, a parte disto, tenho em mim todos os sonhos do mundo."  

E agora José? A luz apagou, o sonho ainda permanece, que eu nunca fui de desistir.

Escrevi esse texto ao ver a chamada da última temporada do programa no início de 2016 , agora, já se encerrou mesmo.




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