Nos dias
de inverno,
quando as ervas daninhas começavam
a crescer
no quintal de meus pais, eu ficava
as observar e pensando:
tais plantinhas não têm propósito,
razão ou serventia pra vida.
Compreendi assim, que a vida não
tem um plano.
Que não há pré-requisitos pra
existir;
que eu existo somente porque
existo.
Compreendi que não nasci pra
grandes coisas;
Eu não serei rei,
Não serei pisoteado a fim de me
tornar um bom vinho.
Eu não carrego os genes de
Napoleão, Dostoiévski.
Nem mesmo de uma puta que fora
assassinada num beco escuro
e que, por esta razão, estampou
por um tempo as primeiras páginas dos jornais.
Eu não vou me eternizar pela minha
lenda pessoal e conformado estou!
Os meus sonhos, tão comuns quanto às
ervas daninhas cujas cresciam
sem que ninguém ás regasse no quintal de meus
pais,
não me
elevarão aos ninhos nos altos cumes das montanhas e
conformado estou!
Alimentar galinhas e regar uma flor
de beleza duvidosa
talvez seja o ato mais nobre da
minha vida.
Nada mais nobre do que se
compadecer da sede de uma planta.
Talvez eu seja um carrapicho,
e meu único propósito seja, em um
dia quente,
prender-me as vestes de uma
agricultor qualquer
e, depois de um tempo, pobre
coitado,
incomodado com a coceira que eu
proporcionasse
me arrancaria e, inocente, me
jogaria em seu quintal.
De modo que, nos primeiros dias de
inverno do ano seguinte,
eu germinaria, e ele, intrigado,
pensaria: como?!
A vida é só isso!
Não há estrada, destino, ou
qualquer coisa que o valha.
A vida é construir uma
estrada
que apesar das curvas distintas,
finda para todos no mesmo abismo.