segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Mr. Robot






Era preciso viver em outros tempos;
No passado, ou futuro, não importa, em que pra tudo existisse regras; um protocolo pra tudo.
Seria tão mais fácil.
Esse negócio de trilhar o próprio caminho é angustiante.
Ter escolhas, lutar pra Ser alguém na vida.
Quem precisa dessa pressão?
Era preciso que todos nascêssemos com o destino certo,
cada um no seu quadrado, sem chances de mudanças.
Mas não, é preciso viver numa sociedade em que
à aclamação de palavras como "empoderamento"
pensamento positivo, são o segredo do sucesso.
Mesmo que, concomitante a isso, a indústria farmacêutica
tenha lucrado cada vez mais com antidepressivos.
Que discrepância!
Era preciso que houvesse dança do acasalamento,
dança da amizade, dança da inimizade,
e que tudo que se desejasse pudesse ser expresso com gestos.
Palavras pra quê?
Palavras machucam, confundem,
iludem, mentem, omitem-se.
Gestos são gestos, crus, se interpreta como tal,
e que escondessem os olhos, pois os olhos revelam demais.
Era preciso também que "todos' praticassem esgrima,
de modo que tudo que se quisesse, que sempre fora seu por direito, por amor, por egoísmo, por sonhos, por protocolos, que seja, fossem reivindicado num duelo.
E que morrêssemos pelo que desejamos,
assim, a angustia da espera não existiria.
Que discrepância!
Era preciso também que cegos tocassem arpas em luas de mel - e aqueles que fossem capazes de tamanha proeza seriam aclamados como heróis.
E que uma parcela, pequena minoria, se aproveitasse do trabalho duro da maioria;
Vivendo estes de boêmias, de desvirginar moças indefesas e de usurpar sonhos alheios.
Assim, existiria a felicidade vinculada ao conformismo:
"Sou o que sou e tudo é certo."
De modo que era preciso viver em uma sociedade em que não se bateriam à porta,
pois sequer elas existiriam.
Portas, grilhões, grades, apenas para aqueles que desejassem ser livres.
O restante seguiriam o seu caminho predeterminado por seus antepassados.
Liberdade pra quê? Se todos buscam prender-se ao estado, a partidos,
a religiões, a pessoas, a grupos vitimistas que se dizem oprimidos, a idiotice...
A verdade é que a liberdade sempre será uma ilusão,
uma utopia que o consciente deseja, mas o corpo rejeita.
Era preciso que eu vivesse em outros tempos!

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