quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Saudade de sentir


Tenho saudade de momentos que se passaram apenas em minha mente. Mas quem haveria de dizer que não foram reais. Tenho saudades dos sorrisos que provoquei, dos sorrisos que deixei disfarçados em dores. Tenho saudade das pessoas importantes que passaram, e que, ironicamente ainda continuam... 

Somos o mundo ao nosso redor, somos as pessoas ao nosso redor, pois ninguém pode SER sozinho. Logo, eu fui em algum momento aqueles castelos dourados que as pessoas a minha volta construíam em mim. Agora, como tanta gente se foi, ou eu que fugi delas, pouco importa, denomino-me ruínas de uma construção antiga, onde amores; guerras, alegrias, dores, por ali passaram e poucos vestígios restaram. Hoje, nem amor, nem dor, nem nada, só essa saudade seca, que nem chega a ser triste. Eu só pedi que não me roubassem às emoções de sentir qualquer coisa. Não era pedir muito, era?  

Eu preciso daqueles sorrisos, daqueles desejos bobos de querer, a todo custo, chamar a atenção de alguém com uma aparente infantilidade. Sinto falta de arrancar uma ira, assim, de propósito, só pra ter o prazer de pedir desculpa depois. Tenho saudade de fazer um elogio cheio de segundas, terceiras, infinitas intenções. Tenho saudade de, com antecedência, bolar os mais tolos diálogos, só pra inserir no contexto as minhas piadas bobas e sem graça, que fazem qualquer pessoa rir, exatamente por serem toscas. E aquele desdém, de propósito, para que o outro sinta que não se importa, só pra que ele implore a sua atenção? Essas aparentes bobagens é o que vale a pena na vida. Eu tenho saudade da felicidade que proporciona as bobagens previamente pensadas, típicas de quem ama. 

domingo, 27 de novembro de 2016

6 livros para aqueles momentos de descrença no sonho de ser escritor

Só quem sonha em ser escritor sabe que nunca é fácil. O mercado editorial é cruel. Pra alguém se destacar no Brasil tem que ser especialista, jornalista ou famoso em outra área, uma vez que autores nacionais, em sua grande maioria, só vendem livros técnicos e biografias.  

Bem, um autor iniciante precisa investir na sua carreira e, mesmo assim, não é tão simples. Pra que o autor atinja o patamar de viver de seus devaneios, pra que chegue naquele tão sonhado nível em que seu nome aparece maior que o título na capa do livro, não é nada simples e pode demorar uma vida toda e é, nesse meio termo, que muitos desistem, principalmente nesses novos tempos de ansiedade em que queremos que tudo aconteça no piscar de olhos. Só que na literatura, querendo ou não, a realidade há de se encarregar de lhe colocar no chão.  

Bem, por inúmeras vezes o sentimento de descrença na minha literatura e no meu talento fora abalada, e sempre que esse sentimento me assolava o acaso me trouxe livros cujos serviram de incentivo pra eu continuar acreditando. E como o principal requisito para um bom escritor é beber de boas fontes,  faço aqui uma pequena lista de alguns desses livros que me ajudaram e ajudam a não desistir dessa quase utopia de me tornar um escritor reconhecido. A lista se encontra na ordem em que li e não me aterei as sinopses dos livros, apenas contarei minha experiência.   

O apanhador no campo de centeio J.D Salinger 



O apanhador no campo de centeio, na verdade, é um livro que me ajudou no momento que, embora eu soubesse que queria ser escritor, eu não tinha certeza de nada. É um livro que trata dos anseios de um jovem que não sabe ainda o que quer, que odeia tudo e a todos e fuma; esse maravilhoso livro de estilo único me fez compreender que não ter um espaço aparente no mundo é normal. E que aquela angustia oriunda da pressão de ser alguém na vida, na verdade só nos torna infelizes e que, se queremos chegar a velhice e não ter a sensação de que vivemos a vida de outros, é preciso coragem pra se despir das vestes que a sociedade nos impõe.  Super recomendo para aquele momento de crise existencial. Em relação a ser escritor, lê-lo me trouxe paciência, pois me fez compreender que o fato de eu não existir ainda, é normal e que só preciso de tempo

O encontro Marcado Fernando Sabino 

Esse livro, meu caro, é mais uma daqueles que narra a busca por seu eu interior.  Como o livro trata de uma garoto que sempre busca seu espaço, me ajudou demais no momento em que o talento, segundo minha percepção, tinha se esvaído ou nunca existido em minha pessoa.
Uma vez vendo uma entrevista a Fernando Sabino, entrevista essa que me fez conhecer o autor (vejo todas as entrevistas com escritores que posso, isso me ajuda a conhecer a vida, os anseios e mazelas de um escritor, deixo essa dica aqui também) eu descobri uma filosofia linda,  que é também o ponto forte do livro o encontro marcado, filosofia esta que até hoje carrego comigo: é a ideia que as soluções de nossos problemas sempre surgem quando precisamos. Ele diz até que, sempre quando realmente precisava de dinheiro, bastava baixar o olhar que ele encontrava na rua. É maravilhoso e, apesar da descrença, sempre funciona.
Bem, voltando ao assunto, o livro trata de um garoto que se aventura pela escrita, então pra quem deseja ser escritor, nos faz imaginar uma vida sendo um escritor reconhecido, logo faz com que aquela centelha que existe no peito de todo sonhador  não se apague. Não deixe de ler, caso já não tenha lido. É simplesmente maravilhoso.

Uma confraria de tolos, J.K Toole 


Puta que pariu! Essa é a frase que me vem à mente quando penso nesse livro.
Uma confraria de tolos é praquela parte da sua sua vida enquanto artista em que os parentes e conhecidos lhe aporrinham pelo fato da arte ser inglória e não render louros, ou melhor, dinheiro. Esse livro é, "simplesmente" (sentindo de tudo) a terapia que você precisa para quando sua mãe chegar pra você e disser: "vai arranjar um emprego seu vagabundo, não vou te sustentar a vida toda." Sabe, além de uma obra genial que te arranca risos e lágrimas, a maioria das vezes ao mesmo tempo, também lhe serve para suportar os dissabores enquanto luta por sua arte, por seus sonhos mesmo quando todos desacreditam e dizem pra você desistir.  Essa obra me ajudou a aceitar a lama do meu presente, com o argumento que tais provações, na verdade, me tornam cada vez mais forte.  Esse livro mudou toda minha concepção de vida. Talvez mude a sua também. Ironicamente eu descobri esse livro lendo uma lista dos livros que as pessoas começam e não terminam de ler. Talvez a maior injustiça que alguém tenha cometido na literatura. Toole, o autor, tirou a própria vida logo depois de terminar essa obra prima e foi sua mãe quem levou o manuscrito para uma editora. Mas espera, como alguém que tirou a própria vida pode inspirar a vida? Simples: quem mais entende da vida é quem não a suporta. Enfim, é simplesmente um livro tragicômico genial. O sofrimento é o tempero da arte. Guarde isso com você!  


Crime e castigo de Dostoiévski 


Não podia deixar de lado Dostoiévski, meu escritor favorito; Sabe aquele autor que conhece você mais do que você mesmo? Pois é, Dostoiévski em relação a minha pessoa! 
Se tratando de crime e castigo então, fico cheio de palavras pra explicar. 
Bem, todo escritor tem uma personalidade forte de modo que presunção e soberba no início da carreira parece um carma que todos carregam, chamo isso da síndrome de Raskolnikov, ou, síndrome de aspirante a escritor. Não estou aqui criticando, essa soberba é fundamental. E foi exatamente essa soberba que crime e castigo fomentou na minha jornada como escritor e me ajudou continuar acreditando, mesmo quando os resultados e a fama que eu esperava não me surgiu como num passe de mágica como imaginava. Lógico que não chego ao extremo da personagem do livro em achar que me encontro acima da lei, mas essa soberba me é tão evidente que seria justo que existisse um funcionário da corte com a única função sussurrar ao meu ouvido que eu não passo de um merdinha de nada, assim colocando meus pés no chão. Quer livro mais essencial para um escritor? Todo escritor que se prese, não querendo menosprezar ninguém, precisa ler crime e castigo. Só acho...     

Pergunte ao pó de John Fante


Nenhum livro me emocionou tanto e me fez acreditar que eu era capaz como Pergunte ao pó de John Fante; simplesmente o li quase sem respirar, pois me identifiquei demais. Foi mais um livro que li naquela hora em que eu sofria a pressão da sociedade pra ser alguém na vida. Como ainda sofro. Maldita pressão! Todos me aporrinhando o tempo todo pra que eu arranje um emprego numa churrascaria, já que não tenho talento pra nada e não posso viver sem dinheiro. Como fazê-los acreditar que se eu arranjo um emprego não tenho tempo pra minha literatura e deixo de viver. É difícil entender? Só quem passa por essa pressão diariamente sabe como é ruim viver no limiar  da subsistência. Depois que li pergunte ao pó, uma frase tornou-se um mantra na minha vida e não sei bem como que seria minha sobrevivência senão fosse ela: 

"Oh Bandini, falando com o reflexo no espelho da penteadeira, quantos sacrifícios você faz por sua arte! Podia ser um capitão de indústria, um comerciante rico, um jogador de beisebol da grande liga, o arremessador líder com uma média de 415; mas não! Aqui está você, arrastando-se ao longo dos dias, um gênio passando fome, fiel à sua sagrada vocação. Que coragem você possui!"

Ainda sou um "zé ninguém passando fome" só que não no deserto californiano, e sim, no calor do litoral cearense.  Agora, gênio? haha, coitado de mim! E é só... Foda-se! Pausa pra reflexão... Vamos pro ultimo livro, Quer sentir que nem sempre são flores, leiam Pergunte ao pó.  


As ilusões perdidas de Balzac 


As ilusões perdidas; o título já diz tudo. Essa obra está sendo útil pra eu me entender enquanto pessoa e escritor. Vem me ajudando a compreender que todo escritor é egoísta e invejoso, que o sistema não ajuda e tudo mais. Embora o livro descreva o mercado editorial francês do século XIX com um estilo próprio de Balzac, duvido muito que o mercado editorial contemporâneo seja muito diferente do narrado no livro, afinal, pessoas são pessoas. O livro narra a jornada de um sonhador que também se acha um gênio da literatura, só que sofre as mais trágicas privações para conquistar um lugar ao sol e tem seus sonhos jogados por terra inúmeras vezes. Assim como eu e talvez você!  Eu considero as ilusões perdidas, outro livro essencial pra todos que se aventuram pela arte da escrita. Na verdade os seis livros da lista são essenciais.

Concluindo: esses livros têm em comum uma lição crucial para qualquer escritor que é: "o bagulho é louco e o processo é lento."

Samuel Ivani 







sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Vídeo: texto o menino da corte

O MENINO DA CORTE




A quem ver! Não ver. Se ver. Não atenta:
um garotinho sujo, descalço, a esperar atento, migalhas da mesa
que caem salivadas dos reis e madames enfeitadas;   
esmeraldas, rubis e mais rubis e corações vermelhos.
O garoto faminto, logo à cima dele, à mesa; risos e
carnes nas barbas dos reis e no colo das enfeitadas.
Há sujeira aqui em baixo; pouco importa a fome não ver.
Gargalhadas, pisadas, gritos, o que haveria logo acima?
O garoto, a fome, os olhos, as vazias entranhas desejam ver.
O Invisível garoto levanta e ver o bobo de pernas pra cima,
como em uma rinha.  
Todos riem do bobo desajeitado.
Bobo da corte. Seria mesmo ele bobo?
O bobo, todos veem! 
Mas a maquiagem, as vestes estranhas...
Na verdade ninguém o ver!
Haveria por trás das vestes um sujo menino?
Todos riem do bobo e lambuzam suas barbas de gordura.
No bobo da corte um sorriso.
Seria dele aquele sorriso ou obra da maquiagem que força as alegrias?
Seria o bobo apenas um quadro em uma moldura?
Quadro sem vida, vida tinha quem o pintou.
Quem pinta o bobo? Não seria o próprio bobo?
O menino ainda faminto olha o bobo e não vê graça.
A fome não deixa seus risos fluírem.
Mas os reis, os reis e madames,
Esses sim, enchem-se de leitões, vinhos e risos.
O bobo menino, o menino bobo, não se sabe,
Levanta-se e agarra uma coxa suculenta.
Agora quem rir do bobo, do bobo menino?
Ninguém! Desse bobo que come. Ninguém! 
O bobo da corte (bom seria se fosse à corte do bobo) 
Estraçalha ferozmente a coxa e seu pescoço.
Os reis e madames assustados murmuram: "que graça há neste tolo?"
O menino sujo e faminto fora levado à forca.
Sem maquiagem não era o bobo.
Todos riam, não do bobo da corte, mas do menino faminto e tolo.
As madames e reis todos maquiados e enfeitados para
presenciar o último riso proporcionado, por aquele que,
antes bobo da corte, agora menino bobo. 

Que forca? Que tortura? A forca seria o fim!
Mas para aquele bobo menino não sobrava ar,
então, melhor seria não respirar. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Banal



"Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo!"
Esbraveje! Grite!
Eu te amo!
Gastemos, gastemos essa bela frase, pois ela é inesgotável,
Introduza na goela dos tontos!
É uma frase tão banal, proferida as árvores, aos mares,
ao álcool, ao som da luz profunda,
aos peitos fartos de putas sem categoria.
Vamos! Grite aos quatro ventos!
"Eu te amooooo!"
Ora, frase tantas vezes usada por poetas e ébrios,
não há de ser gasta por completa nunca.
Vamos, deite essa suposta pesada frase sobre todas as adolescentes que mal conheceu.
Ora! Vejam só: já repetiu tanta vezes que de pesada,
passou a não significar mais nada, não foi?
Não foi por falta de aviso!
Imbecil! Saiu desperdiçando a toa!
Devia ter si dado conta quando a tua mente dizia:
"Será que essas três palavrinhas mixurucas já não estão gastas demais?"
Foi ouvir o coração traiçoeiro... bem feito, se fodeu!

Já foi... Não adianta chorar agora!
Não se tocou que cada homem tem no coração uma cota dessa bendita frase e, que se gastar com quem mal sabe a diferença entre vida e idas ao cabeleireiro,
jogará fora a chance de proferir um "eu te amo" verdadeiro entoado pelo canto dos anjos celestes.
Agora tai o tonto, que de tanto achar que amou,
hoje, sem estoque de "eu te amos" não ama ninguém e acha que não mais amará.
É um castigo justo pra um imbecil que
esbanjou o pouco que tinha.
Ahh!
Eu te amo! Eu te amo!
Vamos, grite! Esbraveje! Agora sim, é justo!







sábado, 19 de novembro de 2016

Lírios do campo



Não houve ou haverá alguém no mundo
mais amargo do que eu!
Eu, não me comovo com o sacrifício alheio
Não me importo com os espelhos que refletem o meu eu.
Tampouco, com o que pensam os tolos.
E os sábios, esses, apenas acham que pensam.
Amargo sou e, as poesias de amor, perseguem-me
como formigas ao açucareiro.
Tolas! Assim, como os campos floridos cujos
sempre me aparecem, desavisados, coitados, que dentre os lírios,
não há quem exale odor mais fétido do que eu. 
- As formigas que se alimentem de outro doce!
Eu, sempre fel, sempre egoísta, não acalento coração que arde.
E de que me serviu uma vida de amores?
De nada! De nada!
Sou intragável! Amargo!
Não há quem tire isso de mim.
Até os deuses já me rotularam:
Blasfemador dos amores, Demônio de cetim.
Não me importo!
Pois de que me serviu uma vida inteira de amores?
De nada, de nada!
Que castelos eu levantei?
Que princesas eu salvei?
Fui apenas o veneno que fechou suas pálpebras.
Se hei de ser vilão, e nada,
Que assim seja:
Que eu espreite o rebanho, e, de vez e sempre furte um beijo de amor
que me alimente.

E retorne, até que não haja mais amor.  

Sem óculos ficamos burros

Imagine você que perdi os meus óculos. E com esse pequeno fato, juntamente com a ferramenta que me conferia nitidez ao mundo a minha volta, perdi também a inteligência. Me sinto muito burro... e surdo. Por que se você não sabe, quem usa óculos, quando os perde, além da pouca visão, também perde boa parte da audição, bem como a inteligência.  


Imagine você que, vendo uma entrevista a Fernanda Montenegro no programa do Jô, onde o principal assunto foi o teatro...(o célebre teatro do passado) eu não consegui entrar no universo de minha mente e sentir saudade daquele tempo que foi relatado, como sempre acontece quando estou munido de bons óculos ao meu gral, embora não tenha vivido àquela época.  
Me sinto destituído de discernimento. Que triste! Imagine você que, enquanto  a atriz falava de Nelson Rodrigues, personagem principal do teatro brasileiro, não achei que poderia conseguir um feito igual, como sempre acontece quando ouço ou leio relatos biográficos a respeito de alguém que se destacou no meio literário e se encontra sobre meu nariz os meus óculos. Embora, quando ela disse que de certa forma Nelson Rodrigues era um apaixonado pela sua pátria, eu também tenha sentindo o mesmo sentimento: "Eu sou um brasileiro feroz! Sou da minha pátria, sou da minha língua, sou da minha rua" Essa frase poderia ter sido eu a tê-la criado, uma vez que carrego comigo o mesmo sentimento em relação ao meu país e uma soberba digna da forca. Ninguém reclama...  Ninguém ouve os meus gritos! Agora sem óculos, nem mesmo eu.  

Imagine você que, falando ela de  Millôr Fernandes, a quem posso me gabar de que conheço relativamente mal, mas lembro de uma frase dele dita numa entrevista que dizia assim: "eu não quero ser conhecido por todo crioulo da torcida do flamengo", e esta frase tenha me intrigado demais e jamais a esqueci, por uma razão que conheço bem, pois ela dizia algo sobre mim: Não quero ser conhecido por todos. Eu quero ser conhecido por aqueles que me compreendem, pois me sinto erudito e pouco popular. No entanto, o fato de me encontrar SEM os meus óculos, fez com que eu perdesse a coragem e a força de vontade que encontrava nessa frase.  Perdi aquela soberba, ou aquele alento que sente um aspirante a escritor quando encontra algo que fomente a sua insignificância; mesmo alento que encontrei nos livros, uma confraria de tolos, o apanhador no campo de centeio, as ilusões perdidas de Balzac... e outros que não vou citar pois estou sem os meus óculos e refletir sobre eles sem minha inteligência costumeira me tirarão todas as esperanças. Como veem: sem os óculos me tornei burro e mais soberbo. Acho que é normal.  

Oh droga! E se aquela frase de Jhon Fante em pergunte ao pó também se esvair e deixar de me dá forças pra continuar acreditando que serei um grande escritor. Não pensa nela, você está sem óculos, não pensa; pensei. Merda!   

"Oh Bandini, falando com o reflexo no espelho da penteadeira, quantos sacrifícios você faz por sua arte! Podia ser um capitão de indústria, um comerciante rico, um jogador de beisebol da grande liga, o arremessador líder com uma média de 415; mas não! Aqui está você, arrastando-se ao longo dos dias, um gênio passando fome, fiel à sua sagrada vocação. Que coragem você possui!"

Eis o que fiz: morri. Agora não tenho mais razões pra continuar. Oh, maldita seja a hora que fui perder os meus óculos
Se bem que, em vez de gênio, eu sou um merdinha de nada mesmo, a fome me é justa

A falta dos óculos me deixou realista, essa é que é a grande verdade.  

domingo, 13 de novembro de 2016

Rimas pobres


Em caso de decepção,
desame, desespere, esqueça.
Em caso de amor sem medida;
ame, não espere, floresça.
Em caso de não amar por preguiça;
estranhe, questione, erga a cabeça.
Em caso de distância,
sonhe, persiga, coma um pêssego.
Em caso de não resistir;
vá em frente, faça uma surpresa.
Em caso de lágrimas descabidas:
um lenço, um afago, um desfecho...
Em caso de bobos sorrisos;
colo, beliscos, mordidas na orelha.
em caso de mal-entendidos:
"desculpa, ela é só uma amiga pentelha."
Em caso de não colar:
"ela me quer, mas meu coração é teu."
Em caso de lágrimas descabidas;
um lenço, um afago, um beijo.
Em caso de futuro;
sonhe, ame, planeje.
Em caso de passado, esqueça.
Em caso de insegurança;
Acontece, aquece, sem receio.
Em caso de chegada;
Abrace, grite, aproveite.
Em caso de despedida;
uma esperança, um reencontro, um amor inteiro.
Em caso de amor;
Ame, não espere, floresça!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Desconstruir


Tudo nessa vida é uma ilusão
uma construção daquilo que não é 
As flores, melhor ficariam em suas plantas mães 
Lá, elas seguiriam seu real propósito:
Frutificariam e, seus doces frutos saciaram a fome
de ferozes preás.
-  Ora presentes à corações apaixonados. 
Não sejam ridículos!  

As estrelas, corpos celestes,
tão distantes nascem e morrem
e se cá viessem
nos destruiriam com sua ponta única.
Ora, cinco pontas e fontes de desejos.
Não me façam rir! 

A lua, filha da terra, a terra retornará...
O coração, apenas músculo
bombeia sangue, amor, dor... 
Bem mais dor do que amor
Ou, talvez de tanto amar, coitado, 
desaprendeu a sonhar e só sabe doer
- Tudo é uma ilusão?

Os sonhos: as desilusões e o pouco realizar 
hão de torná-los um fardo ao coração senil. 
Os ombros: adornados de pele macia e negra, 
enrugarão.
As mãos: há de o tempo se encarregar de manchá-las
Os olhos puxados, de tanto ver, se cansarão
Os cabelos, de tanto eu amar, lá estão.
Os lábios meus, tão meus, salivados, 
jamais ressecarão. 
Os sorrisos, cá ficarão nas lembranças
 - Como não amar?!

O ventre, encaixe perfeito com meus desejos, o tempo o esticará.
As espadas, os escudos, as batalhas,
estas enfeitarão a parede de um velho que
cansado de tudo se questionará: 
Deus, que fiz eu da minha vida?
A saudade? Ah saudade, levante o olhar.
O tempo?!
Este ficará sendo usado por outros 
e outros... 






  


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Resenha: O segredo de Rhonda Byrne


Juntamente com a arte da guerra, esse foi o segundo livro que me proporcionou o contato com a literatura. Eu tinha a certeza que era escritor, baseada sabe Deus em quê, só que tinha uma preguiça de ler monstruosa e quem não ler, não escreve. Então, pra burlar minha preguiça resolvi ouvir áudio livros e os únicos que encontrei pra baixar em 2013 foram o segrego e a arte da guerra.  

Sinopse: Desde tempos imemoriais ele tem sido transmitido, cobiçado, ocultado, perdido, roubado e comprado por grandes somas de dinheiro. Este Segredo milenar foi compreendido por algumas das mentes mais brilhantes da História- Platão, Galileu, Beethoven, Thomas Edison, Andrew Carnegie, Einstein - bem como por inventores, teólogos, cientistas e pensadores de todas as épocas. Agora, O Segredo está sendo revelado ao mundo.


É um livro do gênero autoajuda que não tem valor empírico nenhum, mas todo tipo de leitura pode nos trazer conhecimento se formos um bom leitor. Considero que há dois tipos de leitores: os decodificadores de símbolos, que apenas se divertem e acompanham o enrendo - e os que além da compreensão, desenvolvem ideias próprias a partir dos conhecimentos adquiridos, estes chamo de leitores comensalistas.   

Bem, como sou ateu e Richard Dawkins diz que quando alguém se torna ateu, ele passa acreditar em qualquer coisa, eu passei a ter um fascínio enorme pela lei da atração. Em minha racionalidade eu não podia acreditar em tal loucura, que basicamente diz que tudo que desejamos, tudo mesmo,  o universo conspira pra que consigamos. A autora faz uma tentativa de tornar a lei da atração plausível e até mesmo palpável, então apresenta dicas e exemplos que, segundo ela, realmente funcionaram. (livros não dizem, não falam, não tratam, os autores sim - aprendi isso na faculdade) 
Um exemplo que a autora cita é da visualização do objeto desejado. Tipo, se você deseja cem mil dólares em um ano, imprima uma nota de cem mil e disponha no teto do seu quarto e passe a visualizá-la e desejá-la profundamente, que em um ano, você encontrará um meio de ganhar cem mil dólares.  A autora ganhou esses cem mil e muito mais vendendo um livro ensinando como você conseguir tudo que deseja. Tipico, não?

Então, como eu sou completamente louco,  juntei a lei da atração, com a teoria da relatividade de Einstein e com outra teoria que encontrei no  livro o símbolo perdido de Dan Brown  e desenvolvi minha própria teoria.

No livro o símbolo perdido, o autor conta diversas ideias a respeito do pensamento possuir uma pequena massa -  essa característica confere aos homens a capacidade de materializar objetos; até apresenta o exemplo do manar que caiu do céu no êxodo do povo de Moisés rumo à terra prometida.
-  Diz-se que aquele manar foi a materialização da força do pensamento de quarenta mil pessoas.

"Baseando"-me nessas teorias, olha só a viagem que eu tive: se o pensamento possui uma pequena massa e o universo conspira pra que realizemos todos os nossos desejos,  e os nossos sonhos orbitam a nossa existência, se desejarmos profundamente, os nossos desejos vão aumentando sua massa, logo, curva o espaço e tempo e faz com que os sonhos se aproximem mais da gente a medida que o pensamento vai aumentando sua massa. Pois quanto maior a massa, maior a força da gravidade, logo, quanto maior a gravidade, mais atração esse objeto vai ter. Nem eu entendi, então, não se culpem caso não tenham captado. 

Enfim, o grande segredo que aprendi com esse livro - que não é citado no livro - é que se você desejar profundamente algo e não desistir, sua mente vai desenvolvendo formas e caminhos pra que você atinja aquele objetivo. Não existe formula mágica. Tenho um apresso muito grande por esse livro por conta que foi o meu primeiro contato com a literatura. De resto, é um livro que provoca certo asco em alguns que se dizem amantes da boa leitura, mas eu não carrego preconceitos, embora hoje, tenha evoluído e não leria mais um livro do gênero. Li até um livro chamado a bíblia da sedução e me foi muito útil. 


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Poesia declamada: coração de estudante


Para ser traduzida pela voz, assim como para ser captada, a poesia exige uma sagrada atenção. Entre o leitor e a plateia deve se criar uma aliança íntima, sem a qual as comunicações elétricas dos sentimentos deixam de ocorrer. Se faltar essa coesão das almas, o poeta se verá então como um anjo tentando cantar um hino celeste em meio aos escárnios do inferno. Balzac 






Eu já entendi!
Não precisa que tu a insiras em cada pensamento meu,
em cada sonho que sonhei eras atrás. 
Eu já entendi que ela me faz bem!
Não precisa que tu faças que eu a veja em cada rosto transeunte na rua.
Não vejo necessidade de esculpir o tempo todo o sorriso dela nas nuvens.
Ou que sinta o cheiro dela em rosas e violetas, tampouco,
 em ervas daninhas sem cheiro algum.
Eu já entendi!
Tu precisas compreender que eu já me dei conta que a vida
há de ser sempre mais colorida com ela.
Eu bem sei que ela tem os olhos mais lindos,
A pele mais sedosa, as lágrimas mais felizes.
Que cada segundo do lado dela é experimentar o paraíso.
Eu já entendi!
Não precisa que tu moldes mais a realidade, de modo que tudo me lembre ela.
Não precisa que tu insiras momentos que vivemos
em cada trecho de músicas que escuto lá da casa do vizinho.
Ou que eu a imagine em cada linha dos romances que leio.
Ora, eu quero que saiba que já captei a mensagem!
Que tu não precisa me inserir a necessidade de incluí-la
até mesmo nas conversas mais banais sobre
a situação econômica e política do país.
Ah meu Coração, tu precisas amadurecer um pouquinho e
parar com essas travessuras de cúpido,
Bem sabemos que já não temos mais idade pra isso.
Tu precisas parar de me colocar na cabeça essas aventuras
Ilusórias em que eu a salvo de vilões com olhos biônicos.
Ou essas, por pura casualidade, em que eu seguro em suas mãos
no exato momento que ela despencaria de um penhasco no Grand Canyon.
Ou mesmo salvando ela de um desastre aéreo na Malásia.
Essas coisas embora graciosas,
Talvez nesses tempos reais que vivemos não sejam vistas com bons olhos.
Coração, tu precisa entender que já compreendi tudo isso,
E não precisa que tu se utilizes mais destas tuas artimanhas ardilosas

para que eu me dê conta que ela me faz bem.

domingo, 6 de novembro de 2016

Metafísica



Há tanta beleza nesse mundo,
Tanta metafisica, que só vendo.
Nos fins de tarde, um ranger de porta me transporta pra
outro mundo dentro de mim mesmo, coisa que as portam em si não fazem.
Há tanto amor pra se dá;
Todo amor em mim são gaiolas a procura de passarinhos.
Há tantos sonhos por sonhar;
Todos os sonhos são um enovelado de fé e força de vontade
porém, senão desenrolados e tricotados em realidade são
inúteis como um ranger de portas a tardinha.
Mas há aqueles olhinhos meigos que me trazem a frescura de uma garôa de verão.
Quão belos são!
Mas se estes olhos não me olham, que meiguice há?
Há aquela lua, pequena, perto de uma estrela menor que mais parece uma pintura realista,
que beleza maior duvido que haja!

Há tanta beleza nesse mundo!
Se a realidade fosse só o que é, que triste seria.
Por sorte, há tanta metafisica criada pelo ócio.
Há tanta poesia nessas cabeças de sonhos que transformam a vida de
 inferno a paraíso da noite pro dia. E o contrário é o que mais acontece.
Se o mundo fosse só o que é, talvez eu fosse mais feliz, pois
não esperaria nada além.
Porém, fico esperando um passe de mágica nessa vida pequena
e quem me chega?
ciganos, me mostrando a magia de se criar gelo.

sábado, 5 de novembro de 2016

Poesia declamada: O idiota





 Eu devo ter sido,  irrefutavelmente, o maior idiota do universo. 
Quão grande babaca eu fui!
Eu escolhi conhecer a vida em vez de vivê-la.
Eu escolhi  pensar, em vez de amar inúmeras vezes.
Mesmo assim, das poucas vezes que amei,
Todo conhecimento que tinha, de nada me foi útil.
Eu devo ter sido o maior idiota do universo;
 Um tolo, que se achava maior que todos
 e não passava das vísceras daqueles que não refletiam.
Meros espirros daqueles que viviam.
Eu, como o maior idiota do universo,
não fui nada.
Pensei que estava destinado a grandes coisas
e neguei-me a chance de ser  pequeno, assim como tantos.
Não atentei  que aqueles, cujos viver bastava,
que respirar bastava,  
com apenas algumas aspirações adequada a sua realidade,
 eram a regra e, eu,  a exceção.

Eu devo ter sido, irrefutavelmente, o maior idiota do universo.
O maior tolo do mundo.
Minhas convicções não me levaram a lugar algum.
minhas opiniões, cujo acreditei que mudariam o mundo,
não mudaram nem a direção do sopro
 de um escravo a beira da morte;
chicoteado, ele soprava rumo ao fim
e eu não pude mudar a direção do seu sopro.
Não queria também ser escravo,
 e por  esta grande idiotice, nada fui:
Não cacei, com os príncipes, codornas gordas,
Não busquei em florestas perdizes perdidos
e, por não querer ser escravo, nada fui.
Quão idiota eu fui!
Não quis ser da orquestra o limpador dos instrumentos.
Que mais poderia querer eu, se não sei tocar instrumento algum?
Não quis ser em meio a tantos só mais um
E não fui,  entre eles, nem igual a maioria.
Eu, no papel de maior idiota do universo,
não quis usufruir das descobertas de alguns loucos,
Queria, por força, descobrir
um mundo novo.
Tolo que eu fui, se é que eu fui alguma coisa.  
Eu, no papel de maior idiota do universo,
Escolhi ser eu:
um grande idiota, aos olhos da maioria.
Porém, morrerei com a consciência que fui um idiota,
 mas com a certeza que fui eu,  em todos os momentos que não vivi. 
Na linda história da minha vida, eu fui, acima de tudo, feliz. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Quando a gente acontece




Quanto tempo leva pra gente acontecer?!
É certo que algumas pessoas não nasceram para o ápice de nada,
Mas outras são como se tivessem uma centelha sendo atiçada no peito
Aumentando seu brilho, aguardando o momento para explodir.
Penso presunçosamente ser uma delas.
“Coragem homem! Coragem...”
Erga sua carabina para o azul do céu e marche, marche...
Mas quanto tempo leva pra um homem conquistar o mundo?!
Há de existir milhões que aguardam feito amebas para que Aconteçam,
Esperando que os duendes venham do final do arco-íris com o pote de ouro.
Esperam com vergonha, com receio de serem para o mundo o que SÃO em suas mentes
todas com medo de lutarem por que o mundo exige que sejam meras amebas.
Eu  permaneço aqui, um ninguém, um tolo com a soberba de um rei...
“Marche homem! Erga suas armas para o azul do céu e exista!”  
Haverá de chegar o dia em que deitado na grama verde, eu direi:
 eu não sou nada, mas um dia eu fui!    
Mas quanto tempo leva pra gente acontecer?
Será que precisarei me despir de minhas vestes orgânicas?
Será que eu não terei a chance de me ver quando finalmente eu acontecer?
Será? Será? 
Tantos questionamentos e eu apenas querendo falar do azul do céu.
“Coragem Homem! Coragem...
 Uhaaaaa! Marche covarde! Marche!”
Erga suas armas para o azul do céu e corra até o horizonte do campo de centeio
e deite-se, descansado por que já foi...
“ Corra, homem, corra.”
E tu nasceste com a centelha azul no peito.
Então lute! Desvencilhe-se das amarras que te acorrenta e vá à guerra
E grite:
Eu estou aqui
Samuel Ivani 

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Quando um poema me disse



Esse poema tem apenas dez palavras,  ao final pode lê-las. Elas, por hipótese alguma, dizem tudo,  dizem apenas.  

Quando um poema me disse

Diz-me  poema;
Diz-me, como um raio de sol que se esconde em nuvens escuras.
Diz-me, em silêncio, a beleza daquele brilho,
Daquele anjo desequilíbrio.
Diz-me poema! 
Esbraveje feito um louco!
- Eu só queria dizer, que tudo que eu sempre quis
Foi ser alguém que um dia disse.
Agora me diz poema.  
Diz-me, por mais que soa:
Escuto-te, diz...!
Sussurrou:
- Fiquei guardado em ti, tanto,
Condensaste-me como  nuvem de cores brandas,
Essas que cabem nas lágrimas de quem ver;
no sorriso de quem anseia qualquer coisa que não sabe,
mas é arte e quase tudo vale.

Anda! Diz-me poema! 
- Balbuciou ele, assim, soberbo,
como se dissesse palavras divinas:
- No final, escondem-se os cotovelos
ao mesmo tempo em que se arregaçam as mangas.
Aí se descobre que pouco valeu;
que  viver  é correr para um  abismo que não se espera,  
mas que sempre foi certeza.

Diz-me! 
Ainda há de haver mais... Esperei tanto.
Então, diz-me poema, diz-me, que eu não sei dizer!
- Cante- disse ele!
- Que belo conselho- pensei.
Mas dizes-me, tu há de ter ainda o que dizer 
que eu, coitado, não sei dizer!
Então, o ouvi ao mesmo tempo em que sentia Bach:  
- As notas sempre estiveram aí, soltas, pairando no ar; junte-as.