quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Quando um poema me disse



Esse poema tem apenas dez palavras,  ao final pode lê-las. Elas, por hipótese alguma, dizem tudo,  dizem apenas.  

Quando um poema me disse

Diz-me  poema;
Diz-me, como um raio de sol que se esconde em nuvens escuras.
Diz-me, em silêncio, a beleza daquele brilho,
Daquele anjo desequilíbrio.
Diz-me poema! 
Esbraveje feito um louco!
- Eu só queria dizer, que tudo que eu sempre quis
Foi ser alguém que um dia disse.
Agora me diz poema.  
Diz-me, por mais que soa:
Escuto-te, diz...!
Sussurrou:
- Fiquei guardado em ti, tanto,
Condensaste-me como  nuvem de cores brandas,
Essas que cabem nas lágrimas de quem ver;
no sorriso de quem anseia qualquer coisa que não sabe,
mas é arte e quase tudo vale.

Anda! Diz-me poema! 
- Balbuciou ele, assim, soberbo,
como se dissesse palavras divinas:
- No final, escondem-se os cotovelos
ao mesmo tempo em que se arregaçam as mangas.
Aí se descobre que pouco valeu;
que  viver  é correr para um  abismo que não se espera,  
mas que sempre foi certeza.

Diz-me! 
Ainda há de haver mais... Esperei tanto.
Então, diz-me poema, diz-me, que eu não sei dizer!
- Cante- disse ele!
- Que belo conselho- pensei.
Mas dizes-me, tu há de ter ainda o que dizer 
que eu, coitado, não sei dizer!
Então, o ouvi ao mesmo tempo em que sentia Bach:  
- As notas sempre estiveram aí, soltas, pairando no ar; junte-as. 







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