quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Eu não sou poeta



Eu não sou poeta
E como sê-lo, se não sei dizer coisas bonitas?
Só esbravejo escárnios, impropérios...
Mas como falar daquilo que não se conhece?
Eu não conheço o trigo, os campos de centeio cujos são fermentos
de beleza pra qualquer poesia;
Conheço o arroz, que em natura, subsidiava a seca em minha terra.
Que beleza há nisto?
Também não conheço os pêssegos, as tâmaras, que tanto enfeitam
as almas dos poetas;
conheço o caju, com seu cheiro que entranha, com seu suco que mancha.
Que poesia há nisto?
E como dizer coisas bonitas, se não conheço os vinhedos,
as curvas de Compostela;
só conheço a roça e quantos grãos de feijão se deve jogar na terra
nos dias de inverno.
Isso não me soa belo.
Eu não conheço o barulho das ondas,
só o vento e o sol que queima.
Não conheço a felicidade das cores dos jardins de camélias,
só conheço as flores brancas que, de tempos em tempos, enfeitam sentinelas.
Que beleza há nisto?
Não sou um poeta; um poeta sabe, conhece, vive coisas bonitas;
Eu morro e vivo em mim, sozinho.
Nem mesmo sou bom com metáforas ou rimas;
pra mim, tudo é o que é, e o que resta, é só o que resta.
Eu não sou um poeta senão digo coisas belas.
Como serei amado pelas mulheres?
Como mocinhas irão se derreter ao ouvirem minhas poesias?
Como jovens apaixonados irão recitar meus poemas às suas amadas,
se tudo que digo são bobagens deselegantes e sem méritos?
Está dito, não sou o poeta, nunca chegarei a sê-lo senão digo coisas belas.



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