sábado, 17 de dezembro de 2016

Imortal





Aos quatorze anos eu já tinha vivido tudo, e, desde então, venho apenas me repetindo;
Todas as minhas emoções são, na verdade, versões amenizadas das coisas que já vivi.
Não há nada de novo.
Há muito tempo, quando mal despontava a minha existência eu já tinha sentindo tudo que tinha pra sentir,
de modo que agora, treze anos depois, sinto
que já vivi séculos e séculos e me é insuportável esta imortalidade.
Pode um homem suportar a imortalidade?
Embora meu corpo tenha vivido poucos anos, noto que minha mente, coração e meus olhos, que fazem parte das lágrimas e
não do meu corpo, já viveram até demais.
E tendo eu vivido quase três séculos,
Tenho me repetido tanto que sinto-me saturado de mim mesmo.
Tenho amado intensamente incontáveis vezes e esquecido poucas;
Não se esquece na mesma proporção que se ama, logo, guardo comigo todos os sentimentos sentidos ao longo de anos e anos
e não sei bem se tem valido a pena.
Tendo eu vivido séculos e séculos, descobri que, muito além de sentir,
é preciso também despertar sentimentos, isto, se quiser, além de viver, existir.
De uns tempos pra cá tenho sentindo uma necessidade incontrolável de
despertar sorrisos que me alimente;
De arrancar à mordidas, amores impossíveis.
De despertar romances em quem quer seja, só pra me sentir vivo.
Eu não passo de um canalha; um sonhador de araque incapaz de viver de mim mesmo,
logo, preciso de amor, atenção, veneração de alheios pra me sentir vivo.
Eu sigo o mesmo princípio dos vampiros, mas não sei se compensa, pois tenho como certo que, quando eu chegar à meio milênio,
terei enlouquecido completamente.
Ora, pode um homem suportar todas as emoções existentes?
Pode um homem suportar todos os sentimentos humanos?
Pois quis as minhas escolhas e o meu modo de vida que eu não me resguardasse a sentir só as emoções a mim conferidas. Não. Eu tinha que sentir todas os sentimentos e, desta feita, experimentar todas as dores, embora experimente também, em menor frequência,
as alegrias, mas ainda não sei bem se compensa.
Por que eu tinha que sentir a dor da criança que chora com fome em Várzea Alegre!?
Ou o fio da navalha que corta a garganta de um prisioneiro no oriente médio!?
Por que eu tenho que sentir a tristeza de um cão sem dono nas vielas do Pelourinho, ou a decepção de mocinhas cujos laços se desfizeram na ponte do rio Sena?!
Ora, eu devia apenas sofrer e sorrir por meus sentimentos, mas  de um universo inteiro,
não é justo.
E como o tempo me parece ser relativo a intensidade que se vive
eu  tenho existido demais, mas não sei bem se bem!    






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