terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Velho Oeste

               James Bama 






Verão, noite de lua, estrada estreita. Na mão esquerda um regalo, na direita, as rédeas do cavalo que já lhe acompanhava há sete anos. Era ele o último Cowboy do oeste, do sul, nordeste, talvez até da galáxia.  Por anos ele fora o homem mais destemido e o mais temido das redondezas. Ostentava a fama do gatilho mais rápido e era o caçador de recompensas com mais mortes na conta. Insensível, bruto, ele jamais se envergara ao sentimento humano que fosse. Amava as moças quentes das tavernas por meia hora, por quinze minutos, mas partia sem deixar rastros ou o coração pra trás. Ludibriava as donzelas de família, lhe prometendo aventuras, amores eternos e essas coisas que se diz quando se deseja  noites desenfreadas de amor com moças virgens e ávidas por sangue, mas sempre fugia junto com suas promessas ao amanhecer. Mas isso eram coisas do passado. As rugas no rosto daquele homem de semblante firme evidenciavam uma vida quase toda já gasta; ele agora se comovia com o brilho da lua, com as corujas nas árvores, com o som dos grilos. Não se dava nem mesmo o direito de desfazer as trilhas que as formigas faziam naquela estrada que o levava ao seu destino.

Aquele Cowboy aposentado descobrira muito tarde que uma de suas aventuras do passado lhe deixara uma filha; uma filha que nunca tivera o colo do pai, que não tivera a honra que o pai a acompanhasse no casamento ou que testemunhasse o nascimento da neta. Mas ainda lhe restava o balançar calmo dos passos do seu velho cavalo, a solidão da noite e um pouco de tempo pra tentar remediar os erros do passado.

O último Cowboy do oeste movia-se rumo a casa da neta que nunca vira carregando uma caixinha de música  e um coração outrora de pedra e que agora mais parecia do mais fino veludo. Contente, ele previa a voz fina e suave da neta cheia de vida. Imaginava ela sentada na varanda abrindo seu presente e agradecendo com um sorriso tão largo que lhe enchia a alma. Imaginava os olhinhos negros e esbugalhados dela enquanto abria o embrulho e a emoção ao se deparar com uma caixinha de música com uma linda bailarina a rodopiar no centro. De repente, aquele valente Cowboy do passado se deparou com umas lágrimas bestas deslizando por suas bochechas rosadas de avô Coruja. - Pensou ele - O tempo muda tudo! 

Ao se aproximar do endereço lhe passado, ele não viu nada do que imaginara. Constatou que se tratava de  uma casa toda destruída; já não tinha portas, telhado, e o fogo terminava de consumir as poucas vigas que restava. Apressou o passo, guardou o embrulho com o presente nas algibeiras e empunhou o seu velho revólver que jamais pensara que usaria novamente.

 Ao chegar a casa, gritou, e concluiu que ninguém mais se encontrava ali. Ao dar a volta, se deparou com um brilho reluzindo por entre os escombros. Se apeou, agachou, tomou o objeto na mão e se surpreendeu ao verificar que se tratava do punhal do seu velho inimigo dos tempos dourados de caçador de recompensas.
Aquele velho Cowboy levantou-se expelindo lágrimas de sangue e concluiu que o tempo passa, as pessoas mudam, mas o passado é irremediável.      

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