terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

DE MÃOS BEIJADAS


Trouxeram-me em uma bandeja de cipó uma vida já pronta.
Não que fosse uma boa vida,
mas de toda maneira já se encontrava feita.
Era uma vida que seguia aquela ordem,
em que eu viveria pouco, e se muito,
seria resumida apenas, a dia após dia,
lutar pelo meu próprio oxigênio.
Qualquer coisa além seria egoísmo,
seria loucura aos olhos dos outros.


Trouxeram-me, diante da dor, uma vida já sabida,
E não me foi dada escolhas de ser diferente;
Tinha que seguir aquela ordem que todos julgavam como certa,
caso não a seguisse, tinha também destino certo.
Não que já fosse a vida atribuída a mim grande coisa,
Mas se não a aceitasse, certamente, viveria pouco.
Se muito, viveria como um louco,
Daqueles que todos julgam a escória do mundo.
Um mísero nada! É! Um mísero nada!


Atribuíram a mim, uma vida já certa,
E não foram as pessoas que a trouxeram
Foi à vida árdua antes delas que destinaram a mim
Uma vida simples, em que trabalharia, casaria, talvez,
caso trabalhasse o suficiente, seguiria determinada crença,
Mesmo que ela não me trouxesse vantagem nenhuma,
Mas haveria eu de segui-la, caso do contrário,
o inferno me aguardaria.
Moraria numa casa de quatro cômodos,
Esta, de barro amassado por meus próprios pés.
Teria muitos filhos, e entregaria a eles, mesmo sem querer,
Inúmeras vidas já prontas em uma bandeja de plástico barato.
E depois de um tempo, eu morreria bestamente.
Sabe, de todas essas coisas, morrer seria a mais simples.


Mas depois de tanto tempo passado,
Julgo que esta vida que me trouxeram em uma bandeja de cipó,
 era a certa a ser seguida.
Lutei contra, não a aceitei,
Julgava-me melhor que ela,
Que havia nascido pra grandes coisas
E vejam, estavam todos certos,
sou um mísero nada!

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