sábado, 11 de fevereiro de 2017

A arte da escrita

Pintura de Remédios Varo 

O entrave da absorção e venda da produção literária brasileira não se encontra na falta de produção, e sim, na falta de qualidade da ficção nacional, em que a maioria dos autores buscam apenas imitar os Best Sellers estrangeiros, o que tira a credibilidade e também diminui a confiança do leitor nos escritores nacionais. Há assim, uma larga produção de imitações e não temos um autor vivo que reflita uma identidade nacional, que seja original, que confie no bordão de Leon Tolstoi: “fale de sua aldeia e estará falando do mundo”.

Há também um grande problema, não só na literatura, na arte em geral, que é a falta de confiança na inteligência do leitor ou consumidor de cultura brasileira. Podemos comprovar isso nos seriados brasileiros de comédia em que uma piada, mesmo sendo chula e clichê, além de ser contada, precisa ser explicada duas três vezes. Isso ocorre porque os produtores desdenham da inteligência dos telespectadores e por receio explicam ou alongam a piada até que ela se torne sem graça. Balzac dizia: "até a mais celebre ideia, se repetida muitas vezes se torna ridícula." O mesmo não ocorre em seriados americanos, em que não há a mesma preocupação, então usam e abusam do sarcasmo e metáforas, ou seja, confiam na bagagem cultural de quem assiste e deixam a cargo do consumidor a compreensão.

Eu sonho um dia em que esse país e os demais da América latina ostentem novamente uma leva de escritores como nos anos setenta no chamado "bum latino americano". Isso só depende de escritores com coragem, ousadia e confiança. Em vez de ficarmos lamentando por sermos um país que não lê ou que só lê autores estrangeiros, tentemos produzir uma literatura que seja suficientemente boa pra cativar novos leitores. Pode ser que essa luta seja como a de Dom Quixote, mas precisamos acreditar que estamos no "melhor dos mundos" de Voltaire.
 Assim como um time de futebol ganha um grande número de torcedores em uma fase campeã, novos leitores surgem fascinados com grandes obras produzidas por escritores de qualidade. E leia os clássicos até o final, como diz Leandro Karnal


[...] Escrever é como um vício, impossível de ser superado, impossível de ser saciado. Quando escrevo, me alimento por um dia, no máximo dois, das sensações daquele texto, mas logo depois me bate a abstinência que vem travestida na descrença no meu talento - e se não escrevo, sinto como se eu não existisse por completo; como se eu fosse uma folha seca e qualquer brisa fosse capaz de me carregar pra onde bem entendesse.
Não é uma questão de vaidade, não é para os outros, embora meu objetivo seja ser lido; eu escrevo para mim - e porque preciso. Somente quando escrevo eu sinto que consigo transcender a dura realidade de que eu não passo de um pedaço de carne intragável aos abutres e demônios que me rodeiam. Sem contar que também escrevo pra expurgar os demônios, ou melhor, pra justificá-los.
E não é todo dia que me sinto apto pra escrever, pois não é só apertar teclas, eu preciso ter razões, sentimentos, objetivos, senão o ato de escrever se assemelha ao hábito de comer sem ter fome. "A arte é carne, é sangue, como disse Graciliano Ramos.

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