quarta-feira, 23 de agosto de 2017

"Síndrome" do Aspirante a escritor ou "síndrome" de Raskolnikov



Refiro-me a escritor neste texto, mas acredito que suas lições valem para todas expressões artísticas


A arte da escrita, por ser uma atividade que requer apenas uma linguagem constituída de símbolos e objetos pra grafar o que se deseja dizer, é amplamente democrática e qualquer um dotado de inteligência pode desenvolvê-la facilmente, logo, o único pré-requisito pra ser escritor é acreditar que o é. 
Sendo assim, milhões e milhões todos os dias se descobrem escritores e começam produzir "exageradamente" a sua literatura que julgam sublime. É, sublime, pois a primeira certeza que surge na mente loroteira do aspirante a escritor é que ele vai se tornar, ou melhor, já é, "o maior literato que este país, quiçá o mundo, jamais viu ou verá novamente, só precisa, porém, que ele seja visto e reconhecido - e dada a sua genialidade, será tão logo o sol surja no horizonte." (Entre aspas porque eu sei que você já repetiu essas palavras um milhão de vezes pra si mesmo, assim com eu).

Chamo essa soberba de Síndrome do Aspirante a escritor ou síndrome de Raskolnikov. Raskolnikov é a personagem principal do romance Crime e castigo de Dostoiévski. Ele acredita ser dotado de uma inteligência única, então se coloca a cima de tudo e de todos, inclusive da lei, pois sendo ele um gênio da literatura, segundo suas convicções, não precisa se submeter aos mesmos deveres das pessoas comuns. Balzac retrata também essa síndrome de forma brilhante no maravilhoso romance as ilusões perdidas. Dostoiévski, Balzac e outros autores, embora tenham descrito a síndrome como uma característica de seus personagens, só passaram veracidade porque viveram intensamente ela.

Todo escritor, invariavelmente, carrega essa síndrome quer negue quer não. Senão, repense se de fato é um escritor. Essa síndrome, de início, em vez de levá-lo as alturas, se torna um empecilho, embora necessário, pois enquanto se acredita que é um gênio, único no mundo, qualquer bobagem escrita, aos seus olhos cegos pela certeza, lhe parecem pérolas. Muitos passam a vida toda sem conseguir transpôr esta primeira barreira. 
Por sorte, somente você acredita ser um gênio, os demais não, então o feedback esperado; a fama, os autógrafos, o sucesso econômico, não surgem com os primeiros raios de sol e você vai tomando aquele primeiro choque de realidade que Fernando Sabino tanto fala em O encontro marcado: "Um dia você descobre que é só talentosinho." "Embora essa frase se aplique somente aos escritores comuns, não a você, que é melhor que Kafka e John Fante juntos."

Esse primeiro choque, embora não cure a síndrome, faz com que você reformule os seus sonhos, principalmente em relação ao tempo das realizações. Em termos simples, a síndrome poderia se descrita inicialmente como uma paixão, que com o tempo e as decepções, vai se transformando em um amor maduro e paciente.

Com a bigorna da realidade lhe colocando no chão, você passa a entender que precisa ler muito mais do que escreve. E se for sábio, compreende que precisa beber de boas fontes se quiser melhorar sua escrita. Embora ainda inebriado pela soberba, lhe ocorre também que precisa rever sua gramática, ampliar seu vocabulário, que o mundo, uma hora ou outra notará a sua genialidade. Então, depois de rever seu trabalho e melhorar bastante sua escrita, ainda acreditando ser um prodígio da literatura, divulga mais e mais o que escreve, mas apesar do feedback positivo, vem o segundo choque de realidade: você compreende que precisa de muito trabalho e tempo pra ser visto, bem como pra que seus escritos atinjam o nível de obra de arte, como bem disse Fernando Sabino: "você escreve, mas pra atingir o nível de obra de arte, são outros quinhentos." São poucos que chegam nesta fase, muitos desistem no caminho ou se conformam com o "talentosinho". "A verdade é que, muitos são só talentosinhos mesmo. Mas você não! Você é um grande escritor! Ou não? Talvez você não passe de um merdinha de nada mesmo." 

Com as dúvidas, vem a fase última, que são as descrenças. Você passa a questionar se realmente vale a pena o suor gasto a troco dos louros do futuro que podem nunca vir acontecer. Passa a refletir se realmente tem talento, ou se vale mesmo a pena os sacrifícios, as privações, a falta de dinheiro, de filhos, de pessoas, tudo em prol de um sonho descabido cujo somente você acredita. 
Eis que aqui, a síndrome pode tomar três caminhos: ou desaparece de vez causando a morte do escritor que há em você. Ou se mantém e você continua acreditando nos seus sonhos, embora de forma mais sensata; sabendo que nunca é fácil, que vai precisar de muita garra e coragem pra conseguir um lugar ao sol. E por fim, a síndrome pode entrar no período assintomático, então, sem seus sintomas essenciais, você larga tudo e vai construir coisas reais. Então, depois de muito tempo, já aposentado, velho e decrépito, a síndrome retorna mais forte, tal qual o vírus do sarampo. Porém, muitas vezes, já não resta tempo nem energia para a luta.
Nesta última, surge a certeza mais cruel de todas, como bem disse Fernando Pessoa: "Quem escreverá a história do que poderia ter sido o irreparável do meu passado. Este é o cadáver."

Portanto, lute com unhas e dentes! No fim, todo mundo compreende que desde o início devia ter visto dragões e não moinhos de vento. 














quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Andorinha




De uns tempos pra cá todas as minhas ações tem me parecido ridículas ao extremo.
Tenho magoado as pessoas ao meu redor gratuitamente. 
Tenho, embora a contra gosto, rido de coisas sérias e levado a sério coisas fúteis. 
Já não me sinto interessante ou cativante; 
é como se eu fosse uma maldita piada tantas vezes repetida que já perdi a graça. 
Ando tendo uma dificuldade enorme pra tomar decisões; 
Sinto-me como um beija-flor, que na abundância de flores na primavera, não consegue escolher
uma pra se deliciar com o néctar, e por esta razão, sucumbe sem nunca fazer verão. 
A verdade é que todos os verões se fizeram sem mim. 
Sinto-me estagnado e tão inútil quanto saudade em corações de pedra. 

Até mesmo minha existência física me parece ridícula; 
já não gosto do meu sorriso, dos meus braços, minhas pernas então, tão ridículas que parecem não merecer chegar a lugar algum. 
Minhas palavras então, nem se fala, ou melhor, se fala, mas só bobagens obscenas e sem inteligência que não fazem parte da minha índole verdadeira. 
É como se eu estivesse tentando me reafirmar o tempo todo como alguém comum, que fala coisas comuns, mas nem isso tenho conseguido mais com a mesma destreza de antigamente.
Já não sei amar ou desamar; parece que fiquei preso à um passado que nunca foi passado, porque nunca existiu de fato. 
Sinto-me encarcerado pelos amores dos meus primeiros anos, dos meus primeiros versos - e já não experimento nada de novo faz tanto tempo que parece que o sol não voltou tem anos. 
E confesso que olho para o horizonte, horizonte este que só vai a oito quilômetros de onde habita meu corpo - e não vejo solução aparente: amanhã será igual a ontem e 
o hoje se perdeu no meio do ontem e do amanhã que já nem sabe mais se realmente existiu ou foi só um sonho de uma noite quente. 
Ah, se qualquer coisa acontecesse de modo a mudar isso; ou mesmo que eu pudesse mudar completamente pra que tudo isso fosse diferente a partir de amanhã, mas não será! 
Amanhã o vazio ainda estará aqui e o meu abismo vai continuar se construindo ao redor de mim até o ponto que não vai mais restar pedra que me sustente de pé por mais um dia.


sábado, 12 de agosto de 2017

Quando prostituíram a minha literatura



A título de esclarecimento as minhas leitoras, eu preciso contar um fato horrível que aconteceu comigo enquanto escritor, que caso não faça, minha vida não tem como continuar.
Todos sabem que eu gosto de tratar bem meus leitores e amo todos, pois são vocês que me encorajam a continuar escrevendo ainda que este trabalho não me proporcione dinheiro. 
Bem, uma senhora, dizendo-se minha fã, (não é nenhuma de vocês que curtiram a minha página, não se preocupem) me chamou pra uma conversa inbox no meu perfil. 
Fato foi que a tratei com educação, agradeci seus elogios, ela sendo muito inteligente, a conversa era sempre agradável. 
Depois de uns poucos dias, esta senhora propôs me pagar pra que eu escrevesse um texto especialmente pra ela. Aceitei, afinal, se faço de graça com maior gosto, por puro amor a minha arte, seria legal ganhar um dinheiro. 
Escrevi o texto O Jardineiro do link abaixo a pleno pulmões, focando simplesmente na arte, na literatura: https://letraseopiniao.blogspot.com.br/2017/07/o-jardineiro.html

A enviei o texto, ela ficou extasiada e me mandou mensagens apaixonadas.
Eu, inocente, achei que ela tinha ficado grata pelo meu empenho em impressioná-la, mas na verdade, desde o primeiro contato, ela julgou que por eu ser um escritor de mente aberta, sensível, compreensível, a amaria perdidamente de forma romântica. 
Eu sou tudo isso gente, mas amor não se implora, não se toma a força, muito menos se compra. Ela queria que eu correspondesse as suas mensagens apaixonadas de forma romântica, mas eu expliquei que se caso eu fizesse, eu não estaria sendo romântico e sim hipócrita, uma vez que romantismo se utiliza com alguém que se ama de forma romântica e meu carinho por ela era de amizade. Isso é óbvio pra qualquer pessoa. 
Então, quando ela foi me pagar, disse-me que se sentia pagando um GAROTO DE PROGRAMA. Em Caixa alta mesmo pra ficar claro! 
Eu fiquei muito assustado e triste, com um embrulho no estômago, uma sensação ruim que eu juro que não passou até agora. 
Fato foi que depois disso eu não consegui ser mais o mesmo, pois ela profanou a minha arte que pra mim sempre foi sagrada. Desde o início, apesar de gostar da minha escrita, ela não estava interessada no meu trabalho e sim em comprar o meu coração - e pior, achou que seria a preço de banana, pois sendo eu um escritor sensível, de mente aberta, romântico, me conquistar seria muito fácil. 
Eu sou mesmo romântico, quem me conhece bem o sabe, mas não sou falso, hipócrita a ponto de fingir amar alguém que não amo. 
E os meus textos dizem isso o tempo inteiro: eu não sei amar pela metade, ou amo, ou sou imparcial, não odeio ninguém, nem ela por isso. 
Eu expliquei todas as razões pelas quais eu não me apaixonaria por ela, isto a magoou, mas duvido que tenha sido na mesma intensidade que ela fez comigo. 
Esta senhora, pode ter destruído minha carreira literária, pois é desde então que uma dor funda sem remédio corre atrás de mim sem me matar. Eu não consigo mais escrever com a mesma habilidade de antigamente. 
Que Deus abençoe e perdoe esta mulher, porque eu, por enquanto, não sou capaz.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Moinho



Aos 24 anos, ela se julgava sonhadora e feliz, embora tivesse como certo que o mundo não correspondia aos sentimentos do seu coração.
Todas as noites, apreciando o silêncio agridoce da solidão, ela se punha a pensar em tudo que fizera durante o dia pra expurgar os demônios que inevitavelmente se apoderavam do seu corpo sempre aberto a todas as dores do mundo. Depois, propositadamente, se enchia de pensamentos bonitos esquecendo do mundo lá fora, e assim, refazia seu sorriso, seu coração, sua pele, e todo o resto, de modo a suportar o dia seguinte sem definhar de vez. Ela adorava seus pensamentos desconexos e precisava deles pra se regenerar de um dia inteiro no mundo exterior, para ela cruel e mortal.

Na manhã daquele dia, ela saíra como sempre às sete e quarenta carregando um sorriso largo nos lábios, um emaranhado de sonhos nos olhos, liberdade nos cabelos e tamanha vontade no coração que achava que poderia abraçar o mundo de uma só vez. Caminhando, abraçou inocentemente o cara fantasiado de hotdog na esquina, mas sentiu uma mão apertar suas nádegas, estranhou, mas preferiu ignorar, e continuou, embora parte de si mesma estivesse ficado ali naquela calçada.

Ao atravessar a rua, ainda feliz e saltitante, ela ouviu piadas de mau gosto de homens que limpavam as janelas do primeiro andar do prédio mais feliz da cidade; mas só respirou fundo e continuou, ainda que outras partes de si tivessem se deterioradas ali. Mais a frente, comprou pipoca do seu Omar, o homem de sorriso eterno, e ofereceu a um menino que vendia balas no sinal, mas ele rejeitou questionando se ela não tinha dinheiro. E assim, pouco a pouco, o mundo a sua volta arrancava a beleza que ela havia ganhado de si mesma na noite anterior.

Enquanto seguia, pensava que ainda lhe restava o sonoro "bom dia" acompanhado do sorriso Coréga da dona da loja de artesanato, mas ao se aproximar, se deparou com um recado escrito na porta: "Fechada por motivo de luto." Ela retraiu o sorriso, pensou sobre a vida e a morte: "num instante se está vivo, noutro se está morto." Diante daquela frase, mais algumas partes de si se desfarelaram no chão, como uma estátua se decompondo devido as intempéries do tempo.

Continuou em frente, aquela altura a passos marcados e metódicos, como se ela fosse um robô programado para chegar à algum lugar que já estivera incontáveis vezes.
Ao tentar atravessar a faixa de pedestres, um carro freou bruscamente mas ainda tocou suas pernas. Ela sentiu o calor do motor e notou o rosto irritado do motorista ofendendo-a verbalmente seus antepassados e as futuras gerações. Eis que ali, seu coração desidratou de vez e tornou-se pedra. Ela até pensou em se rebaixar ao nível do motorista, porém, somente baixou a cabeça e continuou andando. Quando finalmente chegou ao trabalho, largou o casaco, amarrou o cabelo, sentou-se em seu computador onde ficaria sete horas ouvindo reclamações de clientes mal educados insatisfeitos com os serviços da empresa e, assim, ela perderia o restante do brilho que lhe restava.   

Em face da rotina, o dia passava vagarosamente, mas como o tempo não para, aquele dia passou mais uma vez.

Na hora da saída, aliviada,  ela se despediu dos colegas burros e malhados e se preparou pra refazer o caminho de volta. Em frente a sinagoga, ela presenciou um bandido bem vestido assaltar uma idosa, ficou indignada, mas ante a impotência, se entristeceu e passou a pensar que sorte que não fora com ela. Aquela altura, já não lhe restava sonhos, sorrisos, nem alma. 
"O mundo era mesmo um moinho." - Pensou ela cabisbaixa.
Ao chegar ao seu casulo, tomou banho, deitou-se, leu dez páginas de um livro interminável, cobriu-se de si mesma e começou seu ritual diário de regeneração. Depois de uma hora, lhe surgiu um pensamento besta: "quem sabe amanhã não seja o dia que eu encontro o amor da minha vida?!"

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O homem que refletia


- Ela é bonita! Tem quadris largos, cintura fina, seios proporcionais.
Certo que não são grandes, mas enchem uma mão de porte médio.
Ah, e seus cabelos negros parecem gostar da brisa de agora.
É muito importante se deixar levar pelo "agora"!
Bem que eu poderia ir lá ir falar com ela.
Ora, ambos estamos sem fazer nada, que mal teria uma conversa casual!?
Mas o que eu poderia dizer?
É, não tenho dúvidas que ela é linda! Tem pernas lisas, pés que parecem saber onde pisam.
Assim de longe, ela me parece uma ótima escolha pra vincular os meus genes.
Certamente nossos filhos seriam lindos.
Poxa, seria um ótimo assunto pra iniciar uma conversa!
 Eu poderia chegar, fazer um aceno com a mão - e sem pestanejar mandar logo a real, dizendo:
Quer ter um filho comigo? Conclui que os nossos filhos seriam lindos!
Ela ficaria assustada, mas antes que respondesse qualquer coisa, eu continuaria falando de modo a expôr as vantagens da nossa prole:
Dada atração física que senti só em te ver de longe, sei que os nossos filhos seriam fortes como touros.
- Sabe, o primeiro eu preferia que fosse uma menina. Seria perfeito pra nós dois.
 Você poderia pentear os cabelos dela, colocar vestidos, planejar festas e eu poderia ensiná-la a andar de bicicleta, nadar e subir em árvores.
Sim, porque toda infância feliz que se prese tem que envolver subir em árvores.
É o que confere aquela conexão com a natureza útil a qualquer ser vivo, sabe?
Já trocar fraldas, seria responsabilidade dos dois. Não que eu já tenha feito isso, mas eu adoro aprender coisas novas.
Eu poderia contar estórias pra ela dormir, instigar o amor pelos livros desde cedo, sem impôr nada. Imposições, de qualquer feita, a mente repele tal qual o escravo repele as correntes que o aprisiona. Não vamos impô-la nem mesmo nossas crenças.
 É importante que ela adquira o senso de escolher o que é melhor pra ela.
Nós só precisamos dizer que existe o bem e o mal e que tudo tem uma explicação.
Ah meu Deus, é tanta coisa pra se pensar!
Outro ponto importante seria aguçar nela o instinto natural da curiosidade.
Hoje em dia, com a internet, as pessoas estão perdendo a curiosidade;
se tudo está a um clique, as perguntas não surgem mais.
Até parece que tudo se revelou e não há mais combustível para as descobertas.
Voltaremos a irracionalidade, é fato!
Nossa! Nesses tempos modernos um filho parece mais responsabilidade do que no passado.
Ou será eu que penso demais?
É tanta coisa:
Como livrá-la da selvageria do mundo?
Como privá-la das dores que já vivi?
Como não ser um pai ruim?
Ah, como eu posso colocar outro ser no mundo pra enfrentar a vida que pra mim já é insuportável?
Desisto! Pensando bem, é melhor eu desistir da ideia de ir falar com ela.
Tudo é tão complicado!
É, eu não vou passar a nenhum ser humano o legado de minha miséria, como bem disse Machado de Assis!
Diante de tantas reflexões, ele levantou e se foi como o ser pensante mais inútil que já se viu por estas terras.
Conclui-se então que, o individuo que pensa demais, não se reproduz.

Sono



Virou-se e notou a mulher do lado num sono profundo. Sustentou a cabeça com a mão esquerda e passou a observá-la enquanto milhões de ideias lhe surgiam tal qual formigas fugindo de um formigueiro alagado: 

- Ah, ela parece tão adormecida que se eu não a conhecesse, diria que comeu da maçã da bruxa - e só vai acordar daqui cem anos e quando eu já estiver morto, logo, não poderei despertá-la com um beijo. Que ideia boba acabei de pensar?! O que será que ela pensaria de mim se soubesse que de vez em quando ainda vivo uns contos de fadas comigo mesmo? Certamente me amaria menos, ou nem me amaria, sei lá! 

Poxa, esse travesseiro e esses lençóis rosa combinam perfeitamente com o tom de pele dela. Certamente, se eu tivesse tido escolha, teria escolhido outros, mas se tivesse feito, esse momento teria outras cores que talvez me proporcionassem um pouco menos de magia, e eu não sei o que seria da minha vida sem experimentar essas sensações tão mágicas de agora. Ela realmente fez uma escolha acertada na roupa de cama. Mas bem que poderiam serem verdes!    

Agora, por que será que é tão bom observar alguém que a gente ama dormir? Ah, deve ser devido à confiança. Durante o sono ficamos completamente vulneráveis, se alguém adormece profundamente do lado da gente, isso quer dizer que ela confia plenamente que  jamais lhe faríamos mal. Deve ser isso mesmo! Ver ela assim tão frágil, dá até vontade de cuidar mais dela, dar mais carinho e beliscões. Que diabo foi que beliscão veio fazer nesses pensamentos? Sou louco! Completamente louco!
Sabe, deve ser por algo parecido que gostamos tanto de barulho de chuva. Durante a chuva, a gente tem certeza que o mundo inteiro tá se molhando lá fora enquanto estamos aquecidos e protegidos dentro de casa.  Duvido que seja tão prazeroso ouvir o barulho de chuva em um telhado que a gente não se encontra debaixo. Mendigos talvez não amem o barulho de chuva. Que triste! Bem que podia chover agora! Seria mais incrível ainda!

Ah velho, como é bom ver os movimentos dela ao respirar; as suas maçãs do rosto mais parecem duas dunas do deserto do Saara. E esses  cabelos negros tão revoltos sobre o travesseiro, parecem tão cheios de vida, deve ser por isso que só de está encostando-me a eles me sinto tão bem. Ela é tão linda enquanto dorme! Acordada também, mas enquanto dorme parece ser diferente. Se eu fosse um psicopata poderia cortá-la a machadadas agora mesmo. Nossa, que pensamento mais idiota! Pensa em outra coisa, pensa em outra coisa.    

Será que se eu encostar a ponta do pé nos dedos dela, ela acordaria? Acho que não, e vai me fazer um bem danado sentir o calor dela... E se entrasse um ladrão aqui agora acordando ela ao gritos, substituindo essa meiguice tão cativante no seu semblante por horror?  Certamente eu o mataria com um golpe ninja. Mas eu não sei nenhum golpe ninja! Meu Deus! Será que ainda dá tempo de entrar no sonho do Jack Chan e pedir que ele me ensine um golpe mortal? Nossa! Essa foi a bobagem mais tosca que já pensei hoje! Caraca,  o que será que ela pensaria de mim se ouvisse tudo que se passa na minha cabeça? Com certeza pediria pra eu me tratar. 
“Esquece isso! Pensa em coisa boa, pensa em coisa boa!”  

Brother! É muito bom vê-la aqui do meu lado - e por livre espontânea vontade; eu não a forcei a nada. Acredita? Isso é muito poderoso! E amanhã, ela ainda estará aqui: acordaremos juntos, tomaremos café juntos, e se tudo der certo, isso pode se repetir mesmo vinte anos depois. Renato Russo era um gênio. Não sei de onde me surgiu essa ideia, mas ele era mesmo um gênio. Bem que eu poderia beijá-la agora, mas isso a acordaria - e eu quero observá-la mais assim, tão linda, tão morena. 

E se ela também estiver acordada, mas percebendo o meu contentamento em vê-la, finge que dorme? Se estiver, ela é mais, mais... Sei lá o quê; qualquer coisa boa que ainda não inventaram, mas ela é mais do que essa coisa ainda! E se eu fosse um ciclope, será que eu a amaria só pela metade? E se ela roncasse, será que vê-la dormir seria tão bom como é agora?  

Nossa, mas pareço o Chaves do que um homem apaixonado. Já chegaram os discos do Iron Maiden! O sol parece ter gosto de pão francês! Ahhhh! Que sono... Que sono...   

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Só mais um texto sobre a minha luta









Carrego o sonho de ser escritor comigo tal qual uma criança que na falta de dinheiro pra comprar um brinquedo da moda, confecciona com as próprias mãos  um modelo pouco parecido, mas que brinca somente dentro de casa, pois tem receio de levá-lo pra rua e sofrer enxovalhos dos outros meninos do bairro com seus bonecos industriais e coloridos. 
É certo que aqueles que brincam exibindo os seus brinquedos reais e que me enchem de inveja, em pouco tempo os gastarão devido a falta de qualidade e o pouco esforço que tiveram pra consegui-los - e talvez eu me divirta mais sozinho com o meu brinquedo do que o contrário, mas o mundo não sabe disso, nem muito menos eu, então a dor de não ter um igual ao deles me é insuportável.

Também é certo que se eu, depois de todos eles gastarem os seus brinquedos mesquinhos que eu daria a vida pra ter um parecido, decido sair a rua com o meu boneco, cheio de confiança devido a falta de comparação, algum moleque mimado e cheio de grana choraria rios e rios pra que sua mãe lhe comprasse a minha obra de arte. Então eu, comparando o brinquedo mixuruca que eu havia feito com os industriais, venderia a preço de banana ciente de que se eu juntasse minhas economias e o dinheiro do meu boneco, daria pra comprar um industrial agora fora de moda, mas o importante é que eu teria um maldito boneco igual a todos os outros meninos da rua.
E o mais triste de tudo é que, o moleque mimado que compraria o meu sonho, só queria mesmo tirá-lo de mim, depois de alguma horas, ele jogaria na lareira da sala da sua mãe sem pensar no esforço, nem em tudo que eu tinha passado pra construí-lo.
Então eu, em pouco tempo perceberia que aquele meu novo boneco fora construído em série aos milhões pra preencher os sonhos de uma grande maioria que não sabe construir sonhos próprios. Logo, ao me sentir só mais um na multidão, abandonaria aquele boneco colorido no canto e voltaria a construir um com a minha cara, com a minha coragem, pois se tem uma coisa que eu descobri é que sempre vou ter a capacidade de criar e sonhar.
O mundo pode demorar pra perceber isso, mas eu jamais vou permitir que o sol se ponha sobre o meu sangue, não enquanto me restar forças pra lutar. 

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Recado as pessoas sozinhas


As pessoas mudam o cabelo, as vestes, o perfume, mudam os sonhos, as metas, mas ninguém muda a natureza do próprio coração. Podem mudar de religião, até de Fé, mas a selvageria que há instintivamente em sua essência não se muda nunca. As pessoas que possuem avareza de sentimentos, não cativam nem mesmo seus iguais. Não é a toa que existem pessoas que gastam uma vida toda e jamais cativam o amor em alguém. Um coração repleto de mesquinhez, inevitavelmente, amargará pra sempre a frustração da falta de amor, pois sequer possui amor próprio, já que amar gasta energia e tais pessoas partem do principio da conservação, até mesmo daquilo que requer que gastemos sempre, como o amor, caso contrário, se esvai com o tempo e a gravidade. Existem pessoas que atribuem sua solidão às pessoas que lhe surgiram ao longo do tempo, pois estas, não foram suficientemente boas para merecerem a sua companhia e esquecem de se analisarem e, não notam que, na verdade, elas que nunca foram capazes de cativar o amor em alguém. Tais pessoas não param para pensar que a realidade de se encontrarem sós é exatamente por conta da sua mesquinhez em relação aos sentimentos. Não se engane, a maioria das vezes é você que é insuportável pelo fato de ser incapaz de disseminar aquilo que não carrega consigo: o amor. Os "sentimentos bons" são a única coisa que quanto mais economizamos, menos temos. Não economize sentimentos bons. 
"Amai ao próximo como a ti mesmo!" E ainda dizem que sou eu que não reinarei no Reino dos céus. Todos os cães merecem o céu, os homens, no entanto, precisam ser bem diferentes do que são para ganharem um castelo de ouro no Paraíso. 
Tu, jamais chegará lá com esse coração amargo até o infinito.
As pessoas são o que são e tentar mudá-las é tentar forjar uma espada apenas com água fria.