sábado, 9 de setembro de 2017

A esquizofrenia dos androides

Jackson Pollock foi um pintor americano que tinha como técnica se desvencilhar dos próprios pensamentos humanos e deixar que sua natureza instintiva pintasse por ele.
Muitos, até hoje, tentam imitá-lo, mas alguém jamais conseguiu.
Foi o que tentei fazer escrevendo esse texto. Mas não foi fácil mesmo. Escrevi naquele intervalo entre o sono e o desperto, quando a gente não controla mais os pensamentos. O resultado tá ai. A arte meus caros, nunca vem fácil. É preciso sangue e carne pra alcançá-la.



Ela apeou-se de um cavalo no meio da nada.
Era deserto, meio dia, um pobre menino sujo apareceu e se lambuzaram de mel.
No dia seguinte, marcaram de se encontrar.
No parque, os pássaros azuis fervilhavam na água da fonte.
O sorvete, quase por terminado, uniu-os em um beijo.
Se era romântico, carnal, o sol quem ia dizer.
As palavras que saiam da boca dos dois eram chulas, sem requinte, mas eles se gostavam, e para os deuses bastava.
Depois de seis meses, resolveram que iam se casar.
Três dias depois, não restando muita coisa além de um namoro chato e conversas sobre coisas incomuns vindas lá das planícies do Himalaia, resolveram que iam terminar.
Eu não preciso dos desejos pra escrever; posso seguir em qualquer direção e minha carruagem esbarrar em vacas dos sertões - e os bifes que delas saírem me alimentarão daqui seiscentos anos.
Pensei agora na Ana, colega da faculdade, lembro dos grandes olhos dela - e o resto, pouco importa. Mas eu poderia, sei lá, tentar qualquer coisa. Mas e o amor da minha vida?
Ela notou que sou doente, raquítico e estarei morto daqui seis meses.
Talvez eu nem me importasse com o embaraço, porque eu queria mesmo era conhecer alguém que tivesse como ofício cuidar de gatos siameses.
Isso nunca vai parar, não é? - Não.
O tempo é uma engrenagem que vai pra frente sempre.
Minha vida tá tão estagnada que dá pra pensar que eu vou explodir e meus restos não serão purpurina.
Ah, como se desvencilhar dos desejos?
Era preciso pensar em outra coisa e escrever outra.
Ora, o sol do meio dia mesmo sem saber pra onde vai, não se esconde mesmo assim?
Minhas esmolas nunca dadas, permanecerão aqui.
Meus guarda-chuvas pouparão joaninhas da saudade dos androides de 1982.
Procuro meu sorriso a cada manhã, mas ele ficou lá na curva asfaltada daquela viela.
Minha solidão, meus devaneios, se envaidecem com os olhos da menina de vestido verde que pouco sorrir, que pouco ama, mas que samba na Quatorze de janeiro.
Se eu pudesse inventar qualquer coisa, criaria os ventos pra que levassem os barcos a velas que desenhei no papel pra longe das aquarelas que não inventei.
Nem mesmo sei se a garota do vestido verde ainda samba, mas os seus olhos ainda me encantam.
Ah! Ela é  insensível como rosas de porcelana.
Eu sou poeta, rimo sem querer. Que maravilha!
A saudade é coisa que não se esconde em trincheiras.
A guerra, tema sublime pra romances, não se encontra em imãs de geladeiras.
Me soa pobre, mas eu nunca fui mesmo um grande cavalheiro.
Nunca juntei chapéus de teresinhas que foram a queda foram ao chão.
Vamos poeta, deixe que as palavras surjam sozinhas.
As rezinas dos cajueiros guardam insetos dos tempos dos dinossauros
e eu nem pra guardar os broches que seguraram minhas fraldas.
Eu só guardo lembranças e loucuras.
Na verdade, guardo também uma carta perfumada que tá lá na gaveta do criado mudo.
Se eu tivesse que ir pro mar, iria bêbado - e se voltasse, seria com as espinhas do peixe de Hemingway.
Se eu fosse a um baile de formatura, seria eu quem derramaria o sangue na Carrie.
Ou talvez eu fosse mesmo era o porco de que tiraram o sangue.
Sei lá, o casal, depois de uma semana, voltaram.
No futuro, eles terão três filhos rudes tanto quanto eles.
São burros feito pedras, mas é destino deles povoarem a terra.
Tudo rima, mesmo que eu não quisesse.
Que dom! Que dom meus velhos.
Ah! meus amigos, ah meus inimigos,
no futuro, quando aqui não mais estiveres
desenvolverão teses sobre tudo que fizeram,
mas será tarde, já estarão apagadas vossas velas.
"Ah! meus amigos, ah! meus inimigos"
aproveitem enquanto eu ainda brilho,
pois não durarei a noite inteira aqui de sentinela.

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