segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O corpo nu nos iguala

Uma crítica a tentativa de censura ao MAN   



Não foi o pecado original que levou o homem a esconder suas "vergonhas". Tampouco foi por vergonha que a espécie humana desenvolveu a hábito de usar vestimentas. Tal característica surgiu unicamente da necessidade de proteção contra o frio, o calor, pra camuflagem e outras razões... Mas de forma alguma foi pra esconder os órgãos reprodutores. 

Em tribos em que todos os membros vivem nus, uma vez que as genitálias estão sempre amostra, são elas vistas como qualquer outra estrutura do corpo, sem conotação sexual.   
E convenhamos, o corpo humano comum, real, sem fotoshop, sem estar exposto numa revista que o individuo aprecia em um momento particular, não tem nada de sensual. Foi depois que o homem criou o hábito de usar roupas e consequentemente esconder os órgãos reprodutores, que se criou toda esta mistificação tola. 

No passado, por exemplo, era considerado indecoroso o hábito das mulheres mostrarem os calcanhares sem razão aparente, logo, os calcanhares eram considerados estruturas eróticas. Mas era o hábito de mostrá-los sem que houvesse uma poça de lama em conjunto com um olhar de soslaio, que indicava o cortejo, não os calcanhares em si.   

Sem contar que a genitália nunca foi característica preponderante na escolha de parceiros sexuais. 
Os  padrões de bons reprodutores são: quadris largos, seios proporcionais para as mulheres; ombros largos e braços fortes para os homens. E para que tais características tornem-se armas de sedução, é necessário todo um contexto, tanto mental, como fisiológico. Elas por si só apenas fazem parte da morfologia de todo ser humano. Quer negue quer não, somos todos iguais por fora e por dentro. 

O principal objetivo da arte pura, sempre foi revelar quem somos, como somos, sem enfeites, sem hipocrisia, ou seja, nos colocar no nosso lugar.  E o uso do corpo humano nu, pode nos revelar uma dura verdade que, em nosso egocentrismo, tendemos a negar "fervorosamente", que é que somos todos iguais.   
O corpo humano, sem estar coberto de roupas caras,  sem estar travestido de uma personagem que muitos usam para distribuir preconceitos contra aqueles que eles julgam inferiores exatamente porque não podem usar a mesma marca, comprar o mesmo carro, nos revela esta dura verdade inaceitável. Então a vergonha que as roupas cobrem, não são as nossas genitálias, e sim a realidade de que somos meros pedaços de carne ambulantes.  

Homens nus são uma fronta, pois nos iguala e é preciso ser mais que alguém sempre. Senão encontramos meios de nos diferenciamos, ou melhor, de nos distanciarmos uns dos outros, a vida perde a graça. "Ninguém pode tirar de mim esta prazerosa sensação de me comparar, e ainda que só comigo mesmo, me sentir melhor por ser mais rico, mais bem vestido, mais branco, mais cheio de joias do que este ou aquele."   

Então meus senhores, parem de censurar a arte; deixem que ela continue revelando quem somos, para que nunca esqueçamos que somos iguais e que findamos sempre no mesmo abismo.
E em vez de lutarem pela censura, revelem para as suas crianças quem somos, o que somos e para onde vamos. Não deixem que elas cresçam sustentando personagens hipócritas e preconceituosas a vossas imagens e semelhanças.  

Como bem disse Fernando Pessoa: "onde é que há gente neste mundo?"   





  

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